Dalai Lama oficializa pedido de afastamento do poder político
Ele quer que o Parlamento do Tibete adote reformas para nomear um representante eleito pelo povo
Ao anunciar a intenção de se aposentar, o Dalai Lama garantiu que não se sente “desanimado” nem pretende “se esquivar de responsabilidades”, e que seguirá fazendo sua “parte na causa justa do Tibete”.
O líder espiritual tibetano, o Dalai Lama, pediu nesta segunda-feira formalmente ao Parlamento do Tibete que adote reformas democráticas para nomear um representante eleito que permita ao líder renunciar a seu papel político. “Nenhum sistema de governo pode assegurar estabilidade e progresso se depende de uma pessoa, sem apoio e participação do povo no processo político. O Governo de uma só pessoa é anacrônico e indesejável”, afirmou o dalai em mensagem enviada ao Parlamento.
O Parlamento tibetano no exílio, situado na cidade indiana de Dharamsala, terá agora que deliberar sobre a mensagem na sessão que começou nesta segunda-feira, de acordo com informação à Agência Efe de um porta-voz do Dalai, Tenzin Talkha. O Dalai, que continuará com seus trabalhos no plano espiritual e à frente do budismo, não deve comparecer à deliberação, disse Talkha, estimando em “sete ou dez dias” o período de debate parlamentar antes de chegar a uma decisão.
O líder espiritual dos tibetanos anunciou na quinta-feira, dia 10, que pretendia entregar seu poder político a um líder “livremente eleito” pelo seu povo. O anúncio foi feito no 52º aniversário da fracassada revolta do Tibete contra a China. Aos 75 anos, o Dalai Lama hoje ostenta tanto o comando religioso como a liderança política dos tibetanos, povo para o qual reivindica uma “autonomia verdadeira” dentro da China. Em seu comunicado, o líder tibetano rendeu tributo tanto aos que lutaram em 1959 contra a repressão chinesa como aos que participaram das manifestações ocorridas há três anos. Os distúrbios causaram a morte de cerca de cem pessoas e levaram a causa tibetana de volta aos holofotes no exterior.
O Dalai Lama também manifestou sua admiração à “notável luta não-violenta pela liberdade e a democracia” nos países do mundo árabe, e disse esperar que “essas mudanças inspiradoras conduzam à liberdade, à felicidade e à prosperidade genuínas de seus povos”. Depois de lamentar que os tibetanos vivam “com temor e ansiedade constantes” sob o regime chinês, ele ainda propôs que uma delegação internacional possa visitar o Tibete para comprovar a realidade de seu povo.
‘Causa justa’ – Ao anunciar novamente a intenção de se aposentar, o Dalai Lama garantiu que não se sente “desanimado” nem pretende “se esquivar de responsabilidades”, e que seguirá fazendo sua “parte na causa justa do Tibete”. “Desde a década de 1960, manifestei que os tibetanos necessitam de um líder livremente eleito pelo povo tibetano, a quem eu possa delegar o poder. Agora, claramente chegou o momento de colocar isso em prática”. Ainda não há detalhes do processo.
Para que os tibetanos possam eleger um novo líder, a Constituição terá de ser alterada. Não é a primeira vez que o Dalai Lama anuncia que pretende se aposentar dos assuntos políticos de seu povo, mas sempre acabou adiando o afastamento porque dizia que era incentivado a continuar pelos seguidores. Desta vez, porém, ele diz que a mudança no poder vai beneficiar os tibetanos ” a longo prazo”. Ainda assim, o gabinete tibetano manifestou preocupação com a decisão do líder.
(Com agência EFE)