A China irá sediar na próxima quinta-feira, 23, a 14ª edição da Cúpulas dos BRICS, que reúne os países de mercado emergente, e enxerga a situação como uma boa oportunidade para promover seu modelo de governança e desenvolvimento em um momento de instabilidade global.
O presidente chinês, Xi Jinping, irá se reunir de maneira virtual com os líderes de Brasil, Rússia, Índia e África do Sul, que completam os BRICS, para discutir questões de interesse mútuo da cúpula, que tem como tema inaugurar uma “nova era” para o desenvolvimento do planeta.
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Antes do evento em Pequim, a mídia estatal chinesa elogiou as cinco economias emergentes, que juntas representam cerca de um quarto da economia global, por impulsionar a “cooperação multilateral com estilos, formas e princípios não ocidentais” e ressaltou a importância da união destes países em um momento em que os Estados Unidos estão “induzindo seus aliados ocidentais a se rebelarem contra a globalização”.
Em maio, Xi já havia pedido ao grupo que rejeite a “mentalidade de Guerra Fria para que seja possível trabalhar em conjunto para construir uma comunidade global de segurança para todos”.
Apesar de diferenças substanciais nas relações com os americanos, todas as cinco nações mantêm certa distância da ordem liberal liderada pelos Estados Unidos. Um exemplo disso ocorreu no início do ano, quando líderes do Brasil, Índia, China e África do Sul se recusaram a condenar abertamente o presidente russo, Vladimir Putin, pela invasão à Ucrânia.
Com um cenário geopolítico cada vez mais complexo devido à guerra na Europa e o crescente afastamento econômico entre Pequim e Washington, especialistas apontam que a cúpula é o momento perfeito para que o Partido Comunista Chinês possa promover sua visão de como as relações internacionais devem ser conduzidas.
“O BRICS é uma espécie de contra-ofensiva diplomática da China tanto para o renascimento da Otan quando para o aumento dos mecanismos que visam controlar o país na região do Indo-Pacífico”, disse o think tank Conselho de Relações Exteriores à rede Al Jazeera.
À medida que as tensões com os Estados Unidos continuam a crescer, Pequim ficado isolada do resto do mundo, principalmente devido ao seu apoio sutil à invasão da Rússia. Desse modo, a cúpula será usada para destacar e criticar a natureza onipresente das sanções americanas que são impostas a milhares de pessoas e entidades ao redor do mundo, segundo analistas.
A reunião, no entanto, não irá se pautar apenas nas críticas ao Ocidente. É objetivo da China destacar seu papel na economia global, dando ênfase à renovação do multilateralismo para a recuperação econômica do mundo, ao aprofundamento da coordenação sobre a mudança climática e ao fortalecimento da união sobre pandemias e saúde pública.
Esse último tópico, inclusive, é ponto de atenção para o governo chinês. As últimas ações de Joe Biden nesse caminho têm deixado a China de fora, fazendo com que outras formas de diplomacia, como a da vacina, sejam fundamentais – principalmente porque os outros países do bloco como Brasil, Rússia e Índia têm forte capacidade no desenvolvimento dos imunizantes.
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Em maio, durante a última reunião entre os chanceleres das nações, os chineses propuseram a expansão dos BRICS e a sugestão foi bem recebida pelos outros membros, embora nenhum anúncio oficial sobre quem poderiam ser esses novos membros tenha sido feito.
Há uma ideia de que os países que se alinharam à política de não condenar a Rússia possam vir a fazer parte do bloco, porém a situação pode se tornar um novo desafio ao invés de uma solução. Muitas economias emergentes têm recebido apoio de outras nações mais consolidadas justamente para diminuir sua dependência dos chineses, tornando mais difícil uma possível aproximação.