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Coronavírus: França repete medida da Dinamarca e inicia matança de visons

Países europeus temem possível mutação da Covid-19 e ordenam o abate dos mamíferos criados em condições insalubres para servir à indústria da moda

Por Luiz Felipe Castro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 23 nov 2020, 10h49 - Publicado em 23 nov 2020, 10h14

Semanas depois de a Dinamarca chocar o mundo ao informar que os 17 milhões de visons, mamífero semelhante ao furão cuja criação se dá basicamente para suprir o mercado de peles, do país teriam de ser mortos por temor de proliferação do novo coronavírus, a França decidiu seguir o mesmo exemplo a partir do último fim de semana.

No domingo 22, o Ministério da Agricultura da França anunciou a detecção do vírus da Covid-19 em uma criação de visons em Eure-et-Loir, região a a 120 km de Paris, e ordenou o abate de 1.000 animais. O país realizou testes em outras três fazendas: uma não registrou casos e as outras ainda não tiveram os resultados divulgados. Nenhum criador de visons testou positivo para Covid-19.

O governo francês reforçou o controle nas fazendas de visons depois da descoberta recente de uma possível mutação do Sars-CoV-2, o vírus da Covid-19, originada em visons. Casos suspeitos foram registrados em países como Holanda, Suécia e Estados Unidos e ganharam notoriedade internacional depois que a Dinamarca anunciou o abate geral de visons no início do mês.

A ordem de eliminar 17 milhões de visons (número quase três vezes maior que a população da Dinamarca) causou uma crise política no país nórdico. O governo chegou a admitir que não havia base legal que animais que estavam saudáveis fossem mortos. Ainda assim, encorajou os fazendeiros a prosseguir com o abate, prometendo compensações financeiras aos mais de 3 500 trabalhadores do setor.

Conforme mostrou reportagem de VEJA na última semana, a medida drástica é justificada pelo temor de que mutações em outras espécies possam ampliar a letalidade do novo coronavírus, como ocorreu com a chamada gripe suína em 2009, e comprometer a eficácia de doenças. O que não encontra justificativa é que países desenvolvido ainda deem suporte a uma indústria há anos banida da maioria dos países da Europa, incluindo o Reino Unido.

O vison não é domesticável como seu parente próximo, o furão, mas ainda é mantido em cativeiro apenas para servir à indústria de moda e beleza — recentemente, cílios postiços feitos de sua pelagem ganharam popularidade. Com apenas 40 centímetros de comprimento, são necessários sessenta deles para fazer um só casaco.

Crueldade: são necessários sessenta animais para fazer um casaco de vison. (Daniele Venturelli/Getty Images)

Há anos, organizações que lutam pelos direitos dos animais denunciam os maus-tratos contra os visons, mantidos em gaiolas minúsculas. A morte, quando não se dá por pancada na cabeça, pode ser feita por afogamento. Há relatos de capturas realizadas em armadilhas que quebram os ossos sem danificar a pelagem. Dessa forma, até mesmo a Animal Protection Denmark, grupo de proteção animal dinamarquês, acredita que a solução das autoridades, forçada pela pandemia, não seja pior do que o sofrimento infligido à espécie.

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No passado, roupas de pele eram vistas como símbolo máximo de elegância, mas o glamour está em constante declínio. Muitas marcas de luxo reconheceram os evidentes conflitos éticos e se comprometeram a não mais produzir roupas de vison, chinchila, guaxinins e coelhos. Até mesmo a rainha Elizabeth II renunciou aos modelitos felpudos. Nas bolsas de mercadorias, o valor da pele de vison despencou 67% em sete anos.

Ainda assim, mesmo com a desvalorização, se o pré-acordo escandinavo prevalecer, o baque econômico não será desprezível: líder mundial no setor, com uma fatia de 40%, a Dinamarca faturou com exportação, somente no ano passado, o equivalente a 4,2 bilhões de reais. Como a demanda segue em alta no mercado chinês, é bem possível que o país da Muralha aproveite o vácuo e abra em seu território fazendas que hoje se encontram na Europa. Graças às vacinas em andamento, a Covid-19 talvez esteja com seus dias contados. Mas o sofrimento do vison, apenas para satisfazer o capricho do homem, ainda parece longe do fim.

O governo francês anunciou a intenção de fechar nos próximos cinco anos as quatro unidades de criação existentes no país, que abrigam cerca de 15 milhões de animais.

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