Tropas da Armênia e do Azerbaijão voltaram a se enfrentar na noite de segunda-feira, 12, deixando pelo menos 49 soldados armênios mortos na pior escalada de hostilidades desde 2020. Do lado azerbaijano foram ao menos 50 mortos, além de danos a equipamentos militares, segundo autoridades locais.
De um lado, o governo armênio disse que várias cidades perto da fronteira foram bombardeadas e que reagiu ao que chamou de “provocação em larga escala do país vizinho”. Por outro lado, o governo azerbaijano respondeu que foi atacado por forças armênias.
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O primeiro-ministro da Armênia, Nikol Pashinyan, acusou o Azerbaijão de atacar as cidades pelo fato de não querer negociar a situação de Nagorno-Karabakh, enclave que fica dentro do território azerbaijano, mas habitado principalmente por armênios étnicos.
“A intensidade das hostilidades diminuiu, mas os ataques em uma ou duas frentes do Azerbaijão continuam. No momento, temos 49 soldados mortos e, infelizmente, não é o número final”, disse Pashinyan em discurso ao parlamento.
O controle da região foi restabelecido totalmente pelo governo azerbaijano em 2020, após uma guerra que durou seis semanas e terminou com mais de 6.600 mortes. Na ocasião, a Rússia mediou um acordo de paz para encerrar as hostilidades.
Por ser líder da Organização do Tratado de Segurança Coletiva, Moscou interferiu mais uma vez no conflito em busca de uma solução. Pela manhã desta terça-feira, 13, o Kremlin afirmou ter negociado um cessar-fogo na região e se demonstrou extremamente preocupado com a situação.
Em nota, o Ministério das Relações Exteriores russo pediu para que os países “se abstenham de uma nova escalada dos conflitos e exerçam moderação”.
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“É difícil superestimar o papel da Federação Russa e o papel do presidente Vladimir Putin pessoalmente. Ele está naturalmente fazendo todos os esforços para ajudar a diminuir as tensões na fronteira”, disse o porta-voz do governo russo, Dmitry Peskov, a repórteres.
Como forma de manter a paz na região, tropas russas são mantidas em Nagorno-Karabakh desde o fim da guerra de seis semanas, em 2020. No entanto, o conflito na Ucrânia abriu uma brecha para o Azerbaijão reivindicar mais áreas do território.
Além da Rússia, outros países também se pronunciaram a respeito do conflito. Após receber telefonema de Pashinyan, a França disse que irá pedir ao Conselho de Segurança das Nações Unidas para debater a situação e, de acordo com o gabinete presidencial, Emmanuel Macron reafirmou a integridade territorial da Armênia.
Já o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, disse que estava em contato com Pashinyan e com o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, para evitar uma nova escalada.
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“Precisamos de um cessar-fogo completo e sustentável. Não há alternativa à paz e estabilidade – e não há alternativa à diplomacia para garantir isso”, disse Michel, que já havia se encontrado com os dois líderes nacionais em Bruxelas, no mês passado.
Os Estados Unidos, por sua vez, também exigiram o fim imediato das hostilidades e alertaram para a possibilidade de envolvimento da Rússia na situação.
“Se o Kremlin de alguma forma agitar a situação, criar uma distração da Ucrânia, é algo que sempre nos preocupa”, disse o secretário de Estado americano, Antony Blinken, a repórteres.
Os conflitos entre Armênia e Azerbaijão começaram no final dos anos 1980, quando ambos ainda faziam parte da União Soviética, e tem Nagorno-Karabakh como foco central. Na época, o governo armênio ocupou faixas territoriais perto da região que, apesar de ser reconhecida pela comunidade internacional como território azerbaijano, tem grande população armênia.
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Dois anos atrás, em 2020, o Exército do Azerbaijão recuperou a região após uma guerra de seis semanas, que teve fim devido à mediação da Rússia. De lá para cá, ambos os governos se reúnem frequentemente para tentar encontrar uma solução para o problema, no entanto, as tensões não chegaram ao fim.