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Como o governador da Flórida virou um dos republicanos mais influentes

Ron DeSantis era um desconhecido quando Donald Trump o apadrinhou. De populismo em populismo, o aprendiz aprimorou as táticas trumpistas

Por Caio Saad 9 abr 2022, 08h00

Na Flórida, destino preferencial dos brasileiros no exterior, um cabo de guerra vem opondo o governo à empresa que mais emprega (80 000 pessoas) no estado, a Walt Disney Company. De um lado da corda está Ron DeSantis, o governador republicano que acaba de assinar uma lei proibindo qualquer menção a questões de sexo e gênero nas escolas até o fim da 3ª série. Do outro, Bob Chapek, CEO da Disney, que assumiu a linha de frente da oposição à legislação. O embate traduz bem os ânimos exaltados e o ímpeto da onda conservadora que engolfa e singulariza a Flórida desde a eleição de DeSantis, 43 anos, advogado que Donald Trump apadrinhou e ajudou a vencer em 2018. O pupilo não só aprendeu como aprimorou as táticas trumpistas. No processo, tornou-se um sério rival do mentor na indicação republicana para a Casa Branca em 2024.

O maior talento de DeSantis é mobilizar os cidadãos comuns em torno de temas de fácil assimilação. Segundo ele, a nova lei, apelidada pelos detratores de “Não diga gay” (“Gay, gay, gay”, provocaram as apresentadoras do Oscar), permite que os pais “mandem as crianças para o jardim de infância sem ter essas coisas injetadas no currículo”. A aprovação do projeto na Câmara e no Senado estaduais provocou protestos e greves pontuais entre os funcionários da Disney, empresa que nasceu e cresceu conservadora, mas hoje abraça a proposta de ambiente de trabalho tolerante e diversificado. Chapek, a princípio, não reagiu. Mas quando apareceram as doações da empresa aos apoiadores da lei (só DeSantis recebeu 50 000 dólares nos últimos dois anos), ele saiu do silêncio: pediu desculpas pela demora em se pronunciar e, em um crescendo de condenações, disse esperar agora que a medida seja revogada pelos legisladores ou suspensa pela Justiça. DeSantis, em troca, ameaça retirar da Disney a permissão de manter uma espécie de governo próprio nos arredores de seu parque. A briga ocorre justo quando a Disney se prepara para transferir da Califórnia para a Flórida o QG de suas operações.

Demonstrators gather to speak on the steps of the Florida Historic Capitol Museum in front of the Florida State Capitol, Monday, March 7, 2022, in Tallahassee, Fla. Florida House Republicans advanced a bill, dubbed by opponents as the
REAÇÃO - Protesto na Flórida contra a lei do “Não diga gay”: a poderosa Disney entrou em rota de colisão com o governo – (Wilfredo Lee/AP Photo/Image Plus)

A guerra cultural em andamento na Flórida tem na mira, além das comunidades LGBTQIA+, as feministas, os imigrantes ilegais, o aborto e qualquer bandeira progressista sob o guarda-chuva do woke, o movimento radical contra discriminação, preconceito e injustiças sociais. Em janeiro, funcionários da Secretaria de Educação, a pedido dos pais, percorreram escolas no interior do estado removendo da biblioteca livros “impróprios” — até o best-seller O Caçador de Pipas entrou no índex. Uma outra lei da lavra de DeSantis é a Stop Woke (aí, uma sigla em inglês para “injustiças contra nossas crianças e nossos trabalhadores”). “Não vamos permitir que os impostos da Flórida sejam gastos ensinando os alunos a odiar seu país e uns aos outros”, proclamou o governador. A intromissão do governo no currículo escolar se estende ao racismo, outro tema que se pretende banir sob a justificativa de que os estudantes de hoje não devem se sentir culpados por erros do passado. “São disputas que despertam atenção na mídia nacional e projetam seu nome”, diz Jim Clark, historiador da Universidade da Flórida Central.

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O populismo conservador de DeSantis saltou aos olhos durante a pandemia, quando ele se recusou a impor o uso obrigatório de máscaras e manteve escolas e negócios funcionando. Até hoje, só 65% da população se vacinou e o próprio governador não revela se está ou não imunizado. Com as portas abertas e a economia em marcha acelerada, 220 000 americanos se mudaram para o estado durante a pandemia, um recorde nacional. Formado em Yale e Harvard, com passagem pelo departamento jurídico da Marinha e aparições em debates na Fox News, DeSantis colocou a estridência em prol da carreira política e tem sido bem-­sucedido. Tradicional swing state, que ora pende para republicanos, ora para democratas, e nesta condição foi o voto definidor em seis das sete últimas eleições, a Flórida, pela primeira vez, tem uma maioria perante os democratas de mais de 100 000 republicanos registrados para votar. A luta de DeSantis neste ano é pela reeleição, que parece garantida. “Ele é, para muitos, a encarnação de Donald Trump na Flórida, uma espécie de sucessor”, diz Darryl Paulson, da Universidade do Sul da Flórida. O criador, enquanto isso, trata de se despregar da criação: recentemente, Trump chamou de “covarde” quem não revela se tomou vacina e, nos discursos em convenções partidárias, um deixou de citar o outro. Essa briga promete.

Publicado em VEJA de 13 de abril de 2022, edição nº 2784

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