Ao contrário do que previa uma gama de pesquisas no dia de eleição, Donald Trump derrotou a candidata democrata, Kamala Harris, e foi eleito presidente dos Estados Unidos nesta quarta-feira, 6. Embora os obituários da candidatura da vice-presidente ainda estejam sendo escritos, é possível dizer que ela parece não ter feito o suficiente para conquistar um grupo crucial dos eleitores, que costumava beneficiar o Partido Democrata: homens latinos.
É o resultado de anos de uma queda livre do apoio de eleitores hispânicos. Em 2016, Hillary Clinton conquistou 63% dos votos entre eles, número que caiu para 59% com Joe Biden, em 2020. A situação de Harris, no entanto, foi ainda mais grave. A democrata teria conseguido apenas 44% dos votos nesse eleitorado, contra 54% de Trump, segundo pesquisas de boca de urna da CNN, a primeira vez que eles dão preferência ao republicano.
Antes mesmo da ida às urnas, Trump já dava indícios de que havia atraído o voto latino, mais expressiva minoria étnica dos EUA. Pesquisas de outubro mostravam que o ex-presidente estava atrás de Kamala por apenas 13 pontos, uma distância muito menor do que a enfrentada contra Biden e Hillary. Caso o cenário desenhado pela CNN se concretize, a derrota de Harris nessa parcela da população marcará a história democrata, mas pelos piores motivos. Seria uma quebra do reduto que há muito era controlado pelo partido.
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O que explica?
Alguns dos resultados já divulgados do pleito desta terça-feira apontam para essa realidade. No geral, os votos para Kamala foram 13 pontos percentuais menores do que os somados por Biden no Condado de Webb, onde há uma grande população de origem latina. E não para por aí: ela angariou dez pontos a menos em Dimmit e Starr, e nove em Zapata. O motivo para o encolhimento? Mais de cinco em cada seis residentes são hispânicos, sugerem os pesquisadores.
Homens latinos explicam pelo menos parte da vitória de lavada de Trump. Eles, que deram a Biden uma margem de 23 pontos percentuais em relação ao republicano em 2020, agora passaram a dar mais atenção para o outro lado do ringue.
As mulheres latinas, por sua vez, deram 61% dos votos para Harris, 24 pontos a mais que para Trump (apesar da margem ser menor do que na corrida eleitoral de 2020). A diferença de gênero é reflexo de uma rachadura que abrange os EUA como um todo: à medida que a política vira um campo de batalha social e cultural, homens e mulheres se mostram mais divididos, inclusive por causa de pautas quentes como direito ao aborto.
A economia, sempre ela, também seria um fator de peso e explicaria o maior apreço por Trump entre os latinos. Os eleitores hispânicos são mais propensos do que outros grupos demográficos a dizer que a economia é a questão mais importante para eles na sociedade, um território desfavorável a Kamala Harris.