A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, reconheceu nesta quarta-feira, 10, “erros” e um “excesso de otimismo” na estratégia comunitária de vacinação contra a Covid-19 na União Europeia, mas defendeu o plano desenhado por Bruxelas, destacando que os atrasos se devem ao fato de a ciência ter avançado mais rápido que a indústria.
Na visão da política alemã, o problema central da estratégia foi subestimar a complexidade da produção de centenas de milhões de doses de vacinas novas em um prazo tão curto.
“Em linhas gerais, subestimamos as dificuldades da produção em massa. Normalmente, leva de cinco a dez anos para produzir uma nova vacina. E fizemos isto em 10 meses (…) Mas de certa forma, a ciência superou a indústria”, disse ao Parlamento Europeu.
Pressionada pelas dificuldades de abastecimento aos países do bloco, a presidente afirmou no tenso discurso que a União Europeia irá concentrar esforços para estimular a produção em larga escalas de vacinas. Apesar dos problemas, ela defendeu com veemência a estratégia de centralizar em seu gabinete a ação dos 27 países para enfrentar a pandemia.
“Demoramos na autorização (de vacinas). Fomos muito otimistas no que diz respeito à produção em massa. E talvez tivéssemos muita certeza de que o que pedimos seria entregue a tempo”, expressou.
Porém, permitir que os países mais ricos da Europa assumissem as vacinas e deixassem os países menores de lado “teria sido, acredito, o fim de nossa comunidade”, disse.
Depois do desenvolvimento das vacinas, “a indústria deve adaptar-se ao ritmo da ciência (…). Precisamos de uma coordenação mais profunda sobre os componentes essenciais e melhorar as capacidades de produção na escala necessária”, disse.
Um dos ‘gargalos’ de todo o processo, observou, “diz respeito às moléculas sintéticas”. Médica de formação, a conservadora alemã destacou que as vacinas para conter a pandemia de coronavírus “contêm até 400 componentes, e a produção envolve até 100 empresas, e é por isto que criamos um grupo para aumentar a produção industrial das vacinas”.
O grupo especial será coordenado pelo comissário europeu para o Mercado Interno, o francês Thierry Breton.
Em 2020, a Comissão estabeleceu que negociaria em nome dos 27 países integrantes da UE com os laboratórios farmacêuticos. Com a prerrogativa, assinou contratos de pré-compra para 2,3 bilhões de doses. Mas os problemas de fornecimento de vacinas já provocaram uma disputa, depois que a AstraZeneca anunciou que não poderia entregar de maneira imediata as doses que prometeu para o Reino Unido e a UE.
Além disso, em uma tentativa de controlar a produção de vacinas no continente europeu mas destinadas a países fora do bloco, a UE adotou precipitadamente um sistema de registro que provocou um incidente diplomático com a Irlanda e o Reino Unido.
Neste esforço, a UE decidiu invocar um polêmico artigo do Acordo de Retirada do Reino Unido do bloco referente aos controles de fronteira entre a República da Irlanda e a província britânica da Irlanda do Norte, embora a instituição tenha recuado após as enormes tensões provocadas.