Começam a valer sanções unilaterais dos EUA contra o Irã
Medidas, que atingem de setor de aviação a petróleo e gás, devem ter graves consequências para a economia iraniana
Os Estados Unidos começaram a aplicar nesta terça-feira 7 uma série de sanções contra o Irã para impor pressão econômica e financeira sobre o regime, meses depois da retirada unilateral de Washington do acordo histórico sobre o programa nuclear iraniano assinado em 2015.
O presidente iraniano, Hassan Rohani, acusou Washington de “querer lançar uma guerra psicológica contra a nação iraniana e provocar divergências” entre os cidadãos do país.
O presidente americano Donald Trump voltou a usar palavras duras a respeito do Irã, país que não tem relações diplomáticas desde 1980 com os Estados Unidos, ao mesmo tempo que fez um apelo à negociação. “O regime iraniano tem uma opção, afirmou o presidente americano. “Pode mudar sua atitude ameaçadora e desestabilizadora e se reintegrar à economia mundial ou pode continuar na rota do isolamento econômico”.
“Continuo aberto a alcançar um acordo mais amplo que aborde toda a gama de atividades malignas do regime, incluindo seu programa de mísseis balísticos e seu apoio ao terrorismo”, completou.
Ameaças
Trump também ameaçou, nesta terça-feira 7, outras nações que decidam descumprir as sanções. Segundo ele, nenhum país que estiver mantendo negócios com o país persa poderá fazer o mesmo com os americanos. Além disso, o presidente disse que as sanções contra Teerã devem ser endurecidas em novembro.
“As sanções contra o Irã foram oficialmente lançadas. Elas são as mais duras sanções já impostas e em novembro serão levadas a outro nível”, afirmou Trump em mensagem no Twitter. “Qualquer um que mantiver negócios com o Irã NÃO fará negócios com os Estados Unidos. Eu estou pedindo a PAZ MUNDIAL, nada menos!”, escreveu.
As sanções
A primeira rodada de sanções americanas, que entrou em vigor nesta terça-feira à 00h01 de Washington (01h01 de Brasília), inclui bloqueios às transações financeiras e às importações de matérias-primas, além de medidas para impedir as compras no setor automotivo e de aviação comercial.
Em novembro, uma segunda fase de sanções se concentrará no setor de petróleo e gás, assim como no Banco Central. As medidas provavelmente terão graves consequências para a economia iraniana, já castigada por uma elevada taxa de desemprego e pela inflação. A moeda do país, o rial, perdeu quase metade de seu valor desde que Trump anunciou sua decisão.
Trump, que adotou uma atitude muito hostil a respeito do Irã desde que chegou ao poder, quer intensificar a pressão sobre Teerã para que mude de comportamento. Ele critica, entre outras coisas, o apoio do país ao presidente sírio Bashar Assad, aos rebeldes houthis no Iêmen e ao movimento palestino Hamas em Gaza.
A chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Federica Mogherini, disse que o bloco, assim como o Reino Unido, a França e a Alemanha, lamentam profundamente a decisão de Washington.
“Estamos determinados a proteger os operadores econômicos europeus que estão envolvidos em negócios legítimos com o Irã”, disse.
Novo acordo?
Depois de meses de retórica violenta, na semana passada Trump surpreendeu, ao afirmar que estava disposto a se reunir com os dirigentes iranianos, sem condições prévias.
Mas o ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohamad Javad Zarif, afirmou ser difícil imaginar uma renegociação do programa nuclear iraniano alcançado em 2015, após anos de negociações entre o Irã e as potências ocidentais (EUA, Reino Unido, França e Alemanha, além de Rússia e China).
O acordo tem como objetivo garantir o caráter estritamente pacífico das atividades nucleares da República Islâmica em troca do fim progressivo das sanções econômicas.
Ao falar sobre a ideia de Trump de negociar, Rohani insistiu que não faz sentido propor novas conversações ao mesmo tempo que restabelece as sanções contra seu país.
“Se você é um inimigo e enfia uma faca em alguém e em seguida diz que quer negociar, a primeira coisa a fazer é tirar a faca”, disse Rohani em entrevista, na qual afirmou ainda que seu pais “sempre esteve aberto às negociações.
“Como eles podem mostrar que são dignos de confiança? Voltando ao JCPOA”, afirmou, referindo-se ao acordo nuclear concluído de 2015.
Desvalorização e protestos
O Irã registrou greves e protestos em várias cidades nos últimos dias motivados pela falta de água e pelos preços elevados, ao mesmo tempo em que aumenta a insatisfação com o sistema político entre a população. Além disso, muitas grandes empresas europeias estão deixando o Irã por medo de sanções.
Rohani abrandou as regras cambiais no domingo 5, permitindo a importação ilimitada de moeda estrangeira e ouro livre de impostos, assim como a reabertura de casas de câmbio após uma tentativa fracassada de fixar o valor do rial em abril, o que provocou uma grande movimentação no mercado negro.