Com presidente fora do país, militares tentam golpe no Burundi
O mandatário Pierre Nkurunziza classificou a tentativa de tirá-lo do poder de 'piada'. O país enfrenta protestos desde que o presidente anunciou que tentaria um terceiro mandato
Militares do Burundi aproveitaram uma viagem ao exterior do presidente Pierre Nkurunziza para declarar um golpe de Estado. O major general Godefroid Niyombare anunciou nesta quarta-feira a deposição do mandatário e a formação de um governo de transição. O motivo alegado pelos militares foi o fato de Nkurunziza anunciar que concorreria a um terceiro mandato, o que é inconstitucional no país. As eleições presidenciais estão previstas para o mês de junho.
O presidente, que participa de um encontro de nações africanas na Tanzânia, classificou a tentativa de tirá-lo do poder de “piada”. “É com pesar que nós tomamos conhecimento que um grupo das Forças Armadas se amotinou nesta manhã e declarou um golpe imaginário. Esta tentativa de golpe foi frustrada e estas pessoas que leram o anúncio do golpe no rádio estão sendo caçadas pelas forças de defesa e segurança para que possam ser levadas à Justiça”, disse a Presidência, por meio de um comunicado. Um porta-voz do presidente afirmou que ele não teme as ameaças e discursará à nação assim que voltar ao país.
Ao anunciar a destituição do presidente em pronunciamento transmitido pela Rádio Pública Africana, o general disse ter ordenado “o fechamento do aeroporto e das fronteiras” e pediu para que “cada cidadão e oficial de segurança dirija-se ao aeroporto para protegê-lo”. Milhares de pessoas foram às ruas comemorar a queda de Nkurunziza.
Protestos – A ação dos militares ocorre após semanas de protestos que resultaram na morte de mais de vinte pessoas. A população se rebelou contra o governo depois do anúncio de que o presidente tentaria uma nova reeleição. Nesta quarta, milhares de pessoas andaram ao lado de soldados quando o golpe foi anunciado. De acordo com a rede BBC, manifestantes invadiram a penitenciária local e libertaram os presos antes de queimarem o prédio. Há relatos de que os militares leais a Nkurunziza iniciaram negociações com a ala golpista, mas a Presidência nega.
Chefes de Estado de países do leste africano que se encontram na Tanzânia condenaram o golpe e cobraram a retomada da “ordem constitucional”. O Departamento de Estado americano emitiu um comunicado pedindo para que “todos os partidos cessem a violência imediatamente e retrocedam”. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, solicitou que as partes envolvidas baixem as armas.
Autoridades locais calculam que mais de 50.000 pessoas fugiram do Burundi desde a eclosão dos protestos contra Nkurunziza. A União Europeia informou ter suspendido parte da ajuda ao país, incluindo apoio para a realização do pleito presidencial, devido aos conflitos registrados nas últimas semanas.
O Burundi, uma das nações mais pobres do mundo, viveu um longo período de conflito étnico entre hutus e tutsis. O primeiro presidente democraticamente eleito do país foi assassinado em 1993, o que deu início a uma guerra civil que durou doze anos e deixou mais de 200.000 vítimas. Um acordo entre as facções em 2003 abriu caminho para um processo de transição. Uma nova Constituição foi estabelecida em 2005.
(Da redação)