Com o fim das restrições da Covid na Inglaterra, cientistas pedem cautela
Na contramão do restante da Europa, país viveu hoje o primeiro ‘Dia da liberdade’ desde o início da pandemia

Após três lockdowns e quase um ano e meio de pandemia, a Inglaterra acordou nesta segunda-feira, 19, um passo mais perto do normal após eliminar quase todas as medidas legais contra a Covid-19, como usar máscara ou manter distanciamento social, apesar do aumento das infecções.
Depois de semanas de manchetes e discursos políticos, chegou o “Dia da liberdade” e com ele o fim dos bloqueios na Inglaterra, data marcada para a última semana de junho e adiada por três semanas devido ao progresso da variante delta.
Mas o grande dia de Johnson foi manchado pelo caos pandêmico porque um aplicativo do Serviço Nacional de Saúde ordenou centenas de milhares de pessoas ao auto-isolamento – gerando alertas de que prateleiras de supermercado poderiam ficar vazias em breve.
O Reino Unido tem o sétimo maior número de mortes no mundo, 128.708, e a projeção é que em breve tenha mais novas infecções diárias do que no auge da segunda onda do vírus, no começo deste ano.
A nova leva de casos, que ronda os 50 mil por dia e chegará a pelo menos 100 mil, não impediu alguns ingleses de adotarem o novo normal, sem limites de capacidade em interiores ou exteriores e com vida noturna.
A noite voltou ao centro de Londres, onde centenas de pessoas fizeram longas filas para festejar, incluindo a contagem decrescente da “liberdade”.
Tudo isso sem se preocupar com exames de Covid-19 negativados, máscaras, distância social ou certificado de vacinação, que serão obrigatórios a partir de final de setembro para participar de eventos de massa.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, confinado após suspeita de infecção por coronavírus, pediu cautela na reabertura.
Em entrevista coletiva de seu isolamento, Johnson defendeu o sistema de rastreamento, fonte de polêmica esta semana, sobre o grande número de pessoas que tiveram que se confinar após receber a notificação de terem entrado em contato com alguns infectados.
Essas ordens de isolamento forçaram o fechamento de parte do metrô de Londres por falta de pessoal, situação que também causou estragos no varejo, hospitalidade ou indústria.
Os trabalhadores essenciais serão dispensados do confinamento por contato positivo se tiverem o esquema de vacinação completo, anunciou Johnson nesta segunda-feira.
Embora a máscara não seja mais uma exigência legal em espaços fechados — ao ar livre ela nunca foi obrigatória — algumas companhias aéreas, supermercados ou outras lojas anunciaram que continuarão incentivando seus clientes a fazerem uso da proteção.
O uso de máscaras também será obrigatório no metrô e nos ônibus de Londres, uma medida que espera inspirar confiança aos habitantes da cidade.
A British Medical Association (BMA) garantiu em comunicado que manter as restrições é a melhor opção para o povo e para a economia, opinião que não converge com a do Executivo britânico, que vê a reabertura como uma decisão “agora ou nunca”, aproveitando o verão, com as salas de aula vazias e a vida social acontecendo lá fora.
No entanto, mais de mil cientistas o censuraram por essa estratégia e assinaram uma carta, publicada no The Lancet, na qual alertam que pôr fim às restrições é um experimento perigoso e pouco ético.
Até hoje, o Reino Unido tem 68,5% da população vacinada com as duas doses.
Contrastante com a reabertura britânica, no resto da Europa a cautela se mantém devido ao aumento das infecções e à pressão nos hospitais. Apesar disso, a taxa de vacinação está acelerando e já ultrapassa os Estados Unidos na proporção da população com pelo menos uma dose.