A Colômbia anunciou nesta sexta-feira, 22, que vai retomar um plano para recuperar um tesouro perdido no naufrágio do galeão espanhol San José, ocorrido em 1708. A carga, composta por moedas de ouro e prata esmeraldas e artefatos históricos, é avaliada em US$ 20 bilhões (cerca de R$ 97 bilhões). Mas a controversa empreitada no “Santo Graal dos naufrágios”, como ele é conhecido, coloca o país no centro de disputas com os Estados Unidos e a Espanha, e contraria recomendações da Unesco.
Em defesa à iniciativa, o ministro da Cultura da Colômbia, Juan David Correa, afirmou que a operação se trata de uma expedição científica ao navio afundado no mar do Caribe há mais de três séculos. As primeiras tentativas tomarão palco entre abril e maio de 2024, caso as condições das águas da região colaborem com os desejos de Bogotá.
“Isto é um naufrágio arqueológico, não um tesouro”, disse Correa, após uma reunião com o presidente colombiano, Gustavo Petro. “Esta é uma oportunidade para nos tornarmos um país na vanguarda da investigação arqueológica subaquática.”
Coletados por robôs ou submarinos, os objetos extraídos dos destroços serão analisados em um navio da Marinha.
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O naufrágio
O San José levava tesouros das colônias na América do Sul à corte do rei Filipe V, na Espanha. As preciosidades cobriam as despesas das batalhas contra os britânicos na Guerra da Sucessão Espanhola (1701-1714). Em 8 de junho de 1708, o galeão foi atacado em Cartagena por uma esquadra britânica, que desejava roubar a carga. O embate, no entanto, não teve os frutos esperados: a embarcação foi destruída, 589 tripulantes morreram e o tesouro afundou.
Embora sua localização exata seja segredo de Estado, sabe-se que navio está localizado na península colombiana de Baru, ao sul de Cartagena, no Mar do Caribe. Com três andares, o San José teria 45 metros de comprimento, largura de 14 metros e seria equipado com 64 canhões.
Disputa
Desde que o navio foi localizado pelo governo colombiano, em 2015, tem sido fonte de entraves legais e diplomáticos.
A empresa americana Sea Search Armada alega ter encontrado naufrágio antes, em 1981, e assinado um acordo com o governo colombiano determinando que teria direito a 35% do montante do tesouro. A decisão, porém, foi anulada pelo Parlamento do país, e tornou-se pauta tanto dos tribunais de Washington quanto de Bogotá. As reinvindicações até hoje não foram atendidas.
A Espanha também demonstrou interesse em reivindicar parte dos baús, mas não conseguiu abrir diálogo com a Colômbia. Frente à chuva de imbróglios, Bogotá abandonou os planos de desbravar os destroços em 2018, retomando-os apenas neste ano.
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Colômbia x Unesco
Ainda em 2018, a Unesco, agência de Cultura das Nações Unidas, apelou à Colômbia para não explorar os destroços comercialmente, já que eles fazem parte do patrimônio cultural subaquático. Em carta, a entidade alegou que a venda dos tesouros históricos “causaria a perda irrecuperável de um patrimônio significativo”.
“Permitir a exploração comercial do patrimônio cultural da Colômbia vai contra os melhores padrões científicos e princípios éticos internacionais, tal como estabelecidos especialmente na Convenção do Patrimônio Cultural Subaquático da Unesco”, acrescentou o texto.
O pedido não tem poder sobre as decisões da Colômbia, servindo apenas como recomendação, já que o país não é signatário da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar. Ou seja, não está sujeito às normas internacionais e não tem a obrigação de informar a Unesco sobre suas estratégias.