Na semana que vem, o Rio de Janeiro sediará um dos encontros mais relevantes do cenário internacional, o G20. Por alguns dias, a cidade será a capital do mundo. Nessa ocasião, líderes das maiores economias do planeta estarão reunidos para debater pautas decisivas para o futuro da humanidade, incluindo mudanças climáticas, segurança alimentar, transição energética e as tão discutidas e daninhas desigualdades sociais. Não será, no entanto, uma conversa fácil. Por mais urgentes que sejam as discussões, o cenário de hoje é marcado por divergências profundas entre as principais potências, especialmente China e Estados Unidos. Em um mundo multipolar e repleto de tensões políticas, comerciais e tecnológicas, em meio a guerras, o avanço nesse lote de questões essenciais parece, infelizmente, um sonho distante.
Essa desunião de interesses deve ficar ainda mais exacerbada com o resultado da eleição americana. O projeto protecionista do presidente eleito, Donald Trump, tentará limitar a entrada de produtos chineses nos EUA, algo que o atual mandatário, Joe Biden, também implementou, mas haverá um outro objetivo declarado: reduzir a influência da China no tabuleiro global. A rivalidade, com todos os seus desdobramentos e aliados de parte a parte, se traduz em impasses nas negociações, especialmente em temas como a transição para uma economia de baixo carbono e programas de cooperação para a contenção do aquecimento global. A urgência de estabelecer metas conjuntas para a redução de emissões, por exemplo, esbarra no fato de que cada país enfrenta desafios internos e adota prioridades de acordo com a organização de suas finanças e sua matriz energética. Em resumo: é fácil cobrar do outro, mas ninguém quer abrir mão de seu naco de poder.
Em razão de toda essa complexidade, é compulsório observar com algum ceticismo eventos como o G20. Como mostra reportagem da edição, é irreal pensar em grandes anúncios ou planos contundentes a partir das reuniões que acontecerão entre ministros e chefes de Estado no prédio do Museu de Arte Moderna carioca. Ainda assim, a conferência no Rio é uma oportunidade para que os líderes procurem pontos de convergência e tentem, ao menos, traçar caminhos que nos levem a um futuro mais sustentável e cooperativo. Um dado é certo: não há outra opção. Em tempos de crises e incertezas, a busca por um diálogo mais construtivo, a busca pelo consenso, é o que a humanidade mais precisa diante de desafios que se mostram gigantescos no horizonte — mesmo que as chances de acordo sejam reduzidas no curto prazo.
Publicado em VEJA de 15 de novembro de 2024, edição nº 2919