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Campanha pró-Brexit é acusada de uso ilegal de dados do Facebook

Segundo um ex-funcionário da Cambrigde Analytica, grupos anti-UE teriam contratado a empresa para reforçar a campanha

Por Estadão Conteúdo
Atualizado em 28 mar 2018, 10h30 - Publicado em 28 mar 2018, 10h29
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  • Um ex-funcionário acusou nesta terça-feira a empresa Cambridge Analytica de ter aproveitado clandestinamente dados de usuários do Facebook e recorrido a caixa 2 para fraudar o plebiscito sobre a saída do Reino Unido da União Europeia em 2016, o Brexit. A companhia é centro de um escândalo de vazamento de informações de integrantes da rede social para influenciar a última eleição nos Estados Unidos, a favor de Donald Trump.

    As denúncias foram feitas ao Parlamento britânico, por Christopher Wylie. Convidado a testemunhar aos parlamentares sobre as implicações de sua empresa na campanha pelo Brexit, Mark Zuckerberg, presidente do Facebook, se recusou e, em seu lugar, propôs que Chris Cox, diretor de produto da companhia, comparecesse para depor. Ele decidiu ir ao Congresso dos Estados Unidos se defender das acusações de ter permitido o uso de dados de usuários na eleição americana.

    Segundo Wylie, a Cambridge Analytica a empresa teria recebido recursos de grupos pró-Brexit por meio de uma companhia canadense de fachada, a Aggregate IQ (AIQ).

    Os britânicos teriam aprovado o Brexit em 2016 sem a Cambridge Analytica? “Não”, respondeu o ex-diretor de pesquisas da empresa britânica, em uma entrevista publicada nesta terça-feira pelo jornal francês Libération, que entrevistou Wylie ao lado de outros jornais europeus, como Le Monde, El País e Die Welt.

    A Cambridge Analytica é a empresa que teria desviado dados privados de 50 milhões de usuários do Facebook, nos Estados Unidos, para beneficiar a campanha de Trump. A mesma estratégia teria sido usada no Reino Unido. Wylie disse que diferentes grupos anti-UE teriam compartilhado um “plano comum” para contratar os serviços da empresa, por vezes usando a Aggregate IQ para maquiar seus balanços. Ao mesmo tempo, gastavam além do limite imposto pelas autoridades eleitorais britânicas.

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    Wylie afirmou que a campanha pelo Brexit teria investido 40% de seu orçamento – com base em doações privadas – em serviços da AIQ. O teto de gastos da campanha era de 7 milhões de libras esterlinas (aproximadamente 33 milhões de reais), mas esse limite teria sido contornado graças a pagamentos realizados por um grupo estudantil pró-Brexit, o BeLeave, que não fazia parte da campanha. Esse grupo de ativismo paralelo investiu 625.000 libras esterlinas (2,9 milhões de reais) em serviços prestados pela AIQ.

    Outros dois grupos pró-Brexit, Veterans for Britain e o partido unionista da Irlanda do Norte (DUP), também teriam contratado serviços da AIQ. Segundo dados oficiais, os grupos que defendiam a saída da UE teriam gasto um total de 16,4 milhões de libras esterlinas (77 milhões de reais) contra 15,1 milhões de libras esterlinas (71 milhões de reais) dos grupos em favor da permanência.

    Há suspeitas de que um quinto grupo, o Leave.EU, dirigido pelo nacionalista Nigel Farage, também tenha usado os serviços da empresa. Wylie sugeriu que a Cambridge Analytica e a AIQ seriam, na verdade, a mesma firma, ou trabalhariam em estreito contato, dividindo tecnologias e pessoal. A proximidade seria tal que funcionários da Cambridge Analytica consideravam a AIQ como um departamento.

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    “Quando observamos as provas, creio que seria irracional chegar a qualquer outra conclusão que não a de que isso foi coordenado, com um objetivo comum”, afirmou Wylie.

    Pela lei eleitoral britânica, os orçamentos dos grupos anti-UE deveriam ser independentes e sem contato. Mas, segundo Wylie, as despesas faziam parte de uma estratégia comum que teria burlado os limites de gastos da campanha. “O resultado do plebiscito poderia ter sido diferente se não tivesse sido fraudado”, disse Wylie. “Muitas pessoas apoiaram o Leave porque acreditavam na aplicação da lei britânica e na soberania britânica. Mas alterar de forma definitiva a Constituição com base em uma fraude é uma mutilação da Constituição deste país.”

    No fim de semana, quando as primeiras informações do escândalo vieram a público, o líder da campanha pelo Brexit, Boris Johnson, hoje chanceler britânico, negou irregularidades. “O Brexit venceu de forma justa, limpa e legal”, garantiu.

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    Na terça-feira, porém, a premiê Theresa May reconheceu no Parlamento que as revelações de Wylie levantam “profundas preocupações” sobre as circunstâncias do Brexit, mas que ainda não seria o caso de anular o plebiscito ou realizar uma nova votação.

    Diante das novas denúncias sobre as circunstâncias em que o Brexit foi aprovado, militantes de grupos que são contra o divórcio entre Reino Unido e União Europeia se dividiram entre pedidos de anulação e prudência.

    Thomas Cole, diretor do grupo mais importante, o Open Britain, prefere esperar o desenrolar das investigações. “Tudo isso é muito interessante, mas temos de ver o que vai acontecer. Houve muitos dados novos a respeito de Facebook e Cambridge Analytica”, disse Cole.

    “Por ora, é um indivíduo fazendo declarações. Muitas questões serão levantadas. Depende se haverá mais investigações, se outros apresentarão dados novos e quais serão os detalhes. Por enquanto, me parece prematuro analisar para onde estamos caminhando”, afirmou.

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