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Brunei aplica pena de morte por apedrejamento a homossexuais e adúlteros

Em desafio às reações da ONU, EUA e UE, sultanato impõe leis brutais, baseadas na sharia, e rasga compromisso de respeito aos direitos humanos

Por Da redação
3 abr 2019, 19h42

Em desafio à onda mundial de indignação, o sultanato de Brunei instaurou nesta quarta-feira, 3, a pena de morte por apedrejamento para punir o homossexualismo e o adultério, base na sharia.  O alto comissariado da Organização das Nações Unidas (ONU) fez um apelo ao pequeno país para que não adotasse o novo código penal, considerado draconiano.

Rico em combustíveis, o país situado na ilha de Bornéu se tornou o primeiro do sudeste asiático a aplicar, em nível nacional, um código penal baseado na lei islâmica mais rígida, seguindo o exemplo da Arábia Saudita. O país é governado com mão de ferro pelo sultão Hassanal Bolkiah.

A nova legislação também prevê a amputação de um pé ou de uma das mãos para os ladrões. O estupro pode ser punido com pena de morte, assim como as ofensas ao profeta Maomé. Alguns artigos do código penal, como o apedrejamento por crime de homossexualidade, se aplicam tanto aos muçulmanos como também aos não muçulmanos.

O novo código penal foi criticado pela ONU, por vários governos e por organizações não governamentais. Personalidades do mundo do entretenimento, como o ator George Clooney e o compositor Elton John, lançaram uma campanha de boicote aos hotéis de luxo vinculados ao sultão de Brunei.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, criticou as novas leis e considerou que elas são uma clara violação dos direitos humanos. “Creio que os direitos humanos devem ser respeitados nas relações de todas as pessoas, em todos os lugares sem nenhum tipo de discriminação”, afirmou em nota.

Guterres completou que a  ONU “se opõe claramente a qualquer forma de castigo cruel” e defende com força “a proteção dos direitos humanos de todas as pessoas para que possam estar com aqueles queiram e amar a quem desejam”.

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O sultão Bolkiah, que lidera a monarquia desde 1967, não fez referência à entrada em vigor das novas leis em um discurso pronunciado nesta quarta-feira. Mas defendeu um islã mais forte. “Quero que os ensinamentos islâmicos neste país sejam reforçados”, disse ele em um centro de convenções nas proximidades da capital, Bandar Seri Begawan.

“A convocação para a oração deve ser ouvida em todos os locais públicos, não apenas nas mesquitas, para recordar os deveres”, disse o sultão.

Justo e feliz

“Brunei é um país justo e feliz”, afirmou o sultão Bolkiah, em resposta às críticas ao novo código penal. “Quem desejar visitar este país terá uma experiência agradável e se beneficiará de um ambiente seguro e harmonioso.”

Representantes do governo confirmaram a entrada em vigor do novo código nacional que, segundo seus críticos, atenta contra os direitos humanos. Phil Robertson, subdiretor da ONG Human Rights Watch, considera que o texto é “bárbaro em sua essência” e “impõe castigos arcaicos por atos que nem sequer deveriam ser considerados crimes”.

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Para a União Europeia (UE), alguns aspectos da legislação supõem “tortura ou atos cruéis, desumanos e degradantes”. O governo dos Estados Unidos afirmou que a nova legislação é contrária às “obrigações internacionais relativas aos direitos humanos”.

O sultão, dono de uma das maiores fortunas do mundo, anunciou em 2013 a progressiva aplicação da sharia. Com o novo código, as relações homossexuais podem ser punidas com a pena de morte por apedrejamento, no caso dos homens, e de 10 anos de prisão, no caso das mulheres. Até ontem,  as relações entre homens, que já eram ilegais em Brunei, eram castigadas com a pena máxima de 10 anos de prisão.

Um habitante gay de 33 anos do sultanato considerou as leis “injustas e cruéis”, que não deveriam ser aplicadas. “Isto tira a alegria de viver, a liberdade de expressão, me deprime tanto”, disse ele, sob a condição de anonimato.

Zulhelmi bin Mohamad, uma mulher transgênero de 19 anos que fugiu de Brunei no ano passado e pediu asilo no Canadá, afirma que a comunidade LGBT do país, que já vive “muito escondida”, sofrerá ainda mais. “Alguns estão muito preocupados e gostariam de fugir do país antes que descubram que não são heterossexuais”, disse.

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Os primeiros dispositivos do novo código foram instaurados em 2014, com multas ou penas de prisão por exibicionismo ou falta na oração de sexta-feira.

É difícil avaliar o sentimento da população ante à aplicação da sharia em Brunei, já que a maioria dos 435.000 habitantes evitam criticar o sultão. Mas a medida teria amplo apoio entre os muçulmanos malaios, que representam 70% da população.

Para analistas, o sultão Bolkiah busca reforçar sua imagem de líder islâmico diante dos mais conservadores no momento em que a economia nacional, baseada no petróleo, dá sinais de enfraquecimento.

De fato não há certeza de que a pena mais severa, o apedrejamento, será aplicada algum dia. As condições para que a Justiça de Brunei determine uma sentença deste tipo permanecem excepcionais: um acusado deve confessar o crime ou cometê-lo na frente de pelo menos quatro testemunhas.

(Com AFP)

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