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Brasileiro isolado há 66 dias em Wuhan: ‘Parei de checar casos e mortes’

O professor de judô Rodrigo Silva Duarte recomenda paciência, exercícios físicos e cuidados com o lado psicológico para enfrentar isolamento

Por Julia Braun Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 25 mar 2020, 11h33 - Publicado em 24 mar 2020, 18h03
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  • Com a diminuição dos novos casos de Covid-19 na China, o governo central planeja atenuar a quarentena em massa na província central de Hubei, epicentro da pandemia do novo coronavírus. A capital, Wuhan, onde o brasileiro Rodrigo Silva Duarte, de 28 anos, está em isolamento em sua casa há 66 dias, ainda deve ficar bloqueada até 8 de abril. Sobrevivente ileso da epidemia e da quarentena, Duarte afirmou a VEJA estar tranquilo para enfrentar as últimas duas semanas de confinamento.

    “No começo, fiquei assustado e dormia mal porque Wuhan foi a primeira cidade a enfrentar a epidemia”, disse o professor de judô, que está isolado com a namorada chinesa em seu apartamento. “Mas agora tento me alimentar com calma, praticar exercícios físicos em casa e tomar meu tempo para fazer tudo com paciência”.

    Duarte foi um dos seis brasileiros que decidiram permanecer na capital de Hubei e recusar o resgate oferecido pelas autoridades brasileiras no início de fevereiro. Uma operação organizada pelo Ministério das Relações Exteriores e pela Força Aérea Brasileira (FAB) retirou 34 pessoas de Wuhan e as levou para Anápolis (GO), onde o grupo passou 18 dias em isolamento em instalações do Exército.

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    Natural de Natal (RN), Duarte admitiu que sua decisão foi regida por motivos pessoais. “No primeiro momento, ninguém sabia se poderia voltar. Por isso comprei suprimentos e me preparei da melhor forma possível”, disse. “Só depois de ter gastado muito em preparação é que surgiu a possibilidade da volta ao Brasil. Não era mais adequado deixar essa preparação de lado e retornar.”

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    Mais de 45 dias depois do avião brasileiro deixar a China, o potiguar que mora em Wuhan há quatro anos afirma ter encontrado uma maneira de se manter protegido do coronavírus e conservar hábitos saudáveis para o corpo e a mente durante a quarentena. “Não sair de casa e ter o menor contato possível com outras pessoas foi essencial para que eu me mantivesse saudável”, contou.

    Mas focar no seu lado psicológico também se mostrou crucial para evitar que, nessa situação, entrasse em depressão. “Eu consegui ficar calmo na maior parte do tempo, pois relaxei e fiz a minha parte ao me prevenir, ficar limpo, sem disseminar o vírus e, é claro, dentro de casa”, conta. “Também parei de verificar a quantidade de casos e mortes todos os dia pela manhã, assim que acordava, porque isso me fazia mal.”

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    Rodrigo Duarte e a namorada chinesa: decisão de não partir no voo da FAB tomada de última hora (Arquivo Pessoal/Reprodução)
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    Enquanto a China vê seus novos casos de Covid-19 diminuírem a cada dia, o Brasil reporta aumento nos contágios. Atualmente, o país tem 1.891 infectados e 34 mortes. Duarte não está alheio a esse fato. “No momento, estou ansioso, confesso que estou preocupado com o Brasil”, afirmou. “Eu me preocupo com os números, com nossa capacidade hospitalar (no Brasil) e, principalmente, com as pessoas que subestimam ou não sabem o quão sério é o problema”.

    Volta à rotina

    De acordo com um comunicado emitido pelo governo de Hubei, as autoridades locais vão encerrar as restrições ao tráfego de dentro para fora da província a partir desta quarta-feira, 25, com exceção da capital Wuhan, onde partidas ainda ficarão bloqueadas por mais duas semanas.

    Ainda assim, apenas as pessoas atestadas como livres do risco de provocar contágio poderão partir. Com 11 milhões de habitantes, o governo de Wuhan encerrará os seus controles sobre o tráfego a partir de 8 de abril. A cidade também começará a estimular a retomada das operações de empresas.

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    Para poder circular, os habitantes de Hubei terão que mostrar um QR code “verde” em seus celulares, uma espécie de prova de que não estão infectados.

    Há pouco mais de dois meses, em 23 de janeiro, a China começou a cercar Wuhan em uma tentativa de conter a propagação do novo coronavírus, detectado inicialmente em um mercado da cidade. Medidas similares foram estendidas a toda a província de Hubei naquele mês, enquanto quarentenas parciais foram impostas em boa parte do resto do país, afetando centenas de milhões de pessoas.

    As autoridades chinesas começaram, nas últimas semanas, a diminuir gradualmente essas restrições, permitindo aos trabalhadores o retorno a seus locais de trabalho e encorajando as empresas a retomar operações, em um esforço para restaurar a atividade econômica regular.

    A China registrou nesta terça-feira 78 novas mortes pelo coronavírus, mas quase exclusivamente de pessoas que vieram do exterior. Isso prova que a epidemia está quase controlada, embora ainda haja medo de uma nova onda de infecções.

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