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Brasil sofre ameaça de ‘golpe militar’, diz ‘The New York Times’

Segundo jornal americano, presidente Jair Bolsonaro e seus aliados usam a ameaça de intervenção militar para proteger seu poder durante crise do coronavírus

Por Amanda Péchy Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 7 abr 2021, 15h25 - Publicado em 10 jun 2020, 17h22
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  • O Brasil sofre ameaça de um golpe militar‘ para proteger e garantir o poder do presidente Jair Bolsonaro e seus aliados, afirmou o jornal americano The New York Times em um artigo publicado nesta quarta-feira, 10. Segundo a reportagem, a instabilidade do país, agravada pela crise do coronavírus e pela crescente presença de figuras militares no governo, coloca em risco a maior democracia da América Latina.

    O texto ressalta, entre outros pontos, a gestão da pandemia por Bolsonaro, afirmando que ele “foi criticado por subestimar o vírus e sabotar medidas de isolamento”, além de relembrar seu comentário no dia 2 de junho a respeito das vítimas da Covid-19: “Lamento todos os mortos, mas esse é o destino de todo mundo”.

    O jornal também apontou a crescente presença das Forças Armadas no governo após o início da pandemia. O presidente mudou a liderança da equipe de resposta ao coronavírus para outro general, Walter Souza Braga Netto, e o ex-ministro da Saúde, Nelson Teich – que se demitiu –, foi substituído pelo general Eduardo Pazuello de forma interina.

    “Quase metade de seu gabinete é composto por figuras militares, e agora ele conta com a ameaça de intervenção militar para afastar os desafios de sua Presidência”, publicou o Times. “O círculo interno do presidente Jair Bolsonaro parece estar clamando para que os militares entrem na briga”, completou.

    A crise econômica do país é uma ameaça ao governo, segundo o jornal, com investidores abandonando terras tupiniquins e a expectativa de contração econômica de 8% este ano. As acusações contra apoiadores de Bolsonaro por abuso de poder, corrupção e disseminação ilegal de informações falsas também ameaça a Presidência, que sentiria necessidade de encontrar respaldo na ameaça de um golpe.

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    Os filhos do presidente, Eduardo e Carlos Bolsonaro, são investigados por articularem campanhas de desinformação e difamação contra o Supremo Tribunal Federal (STF). No final do mês passado, a Polícia Federal (PF) deflagrou operações em várias propriedades ligadas a influentes aliados do governo. Recentemente, o STF autorizou um inquérito para investigar a possível interferência de Bolsonaro na PF para proteger sua família. Na segunda-feira, o ministro Alexandre de Moraes ordenou que o governo parasse de suprimir dados sobre o coronavírus no Brasil.

    O jornal fez uma recuperação de uma série de apontamentos de aliados do governo e militares a respeito de um possível golpe. Por exemplo, o deputado Eduardo Bolsonaro disse que uma “ruptura” do sistema democrático brasileiro era inevitável.

    Depois que o STF permitiu a continuação de investigações sobre apoiadores de Bolsonaro, o general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional, disse que haveria “consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional”. Ele disse mais tarde que não apoiava um golpe de Estado, alegando que tinha sido mal interpretado.

    Também o pastor Silas Malafaia, que é visto por muitos como apoiador de Bolsonaro, argumentou que as Forças Armadas tinham o direito de impedir que os tribunais derrubassem o presidente, dizendo que “não é golpe, é colocar ordem onde há desordem”.

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    O país agora tem mais de 700.000 casos confirmados de coronavírus, atrás apenas dos Estados Unidos. Pelo menos 37.000 pessoas morreram com o vírus no Brasil a partir de terça-feira, com a contagem de mortes geralmente subindo mais de 1.000 por dia.

    Segundo o Times, bolsonaristas não esperam tomar o poder nos moldes de intervenção militar da década de 1960. “As autoridades pró-Bolsonaro parecem estar pedindo algo semelhante ao que aconteceu no Peru em 1992, quando Alberto Fujimori, o líder de direita, usou as Forças Armadas para dissolver o Congresso, reorganizar o judiciário e caçar oponentes políticos”, publicou o jornal.

    Mesmo enquanto autoridades, como o vice-presidente Hamilton Mourão, afirmam que nenhum tipo de intervenção militar está sendo considerada, o Times diz que o debate sobre a possibilidade afeta as instituições democráticas, com o retorno à instabilidade política crônica e constante intromissão militar.

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