Biden forma grupo para unir crianças separadas dos pais pelo governo Trump
Estima-se que quase 1.000 menores ainda estejam afastados de suas famílias, sob tutela do governo; democrata pretende reverter legado anti-imigração
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, irá assinar nesta terça-feira, 2, uma ordem executiva para a criação de uma força-tarefa com objetivo de reunir as crianças que foram separadas de seus pais após cruzarem a fronteira durante o governo de Donald Trump.
A iniciativa faz parte de um pacote maior de decretos sobre imigração, com intuito de reverter o legado de Trump. Durante os quatro anos no cargo, o republicano assinou mais de 400 ações do gênero para restringir o acesso ao país por estrangeiros, incluindo a política de “tolerância zero” que atingiu as famílias de imigrantes.
A força-tarefa irá trabalhar com aliados em países do continente para encontrar os pais das crianças que ainda estão sob custódia do governo americano. O último registro oficial, datado de dezembro, relatou que 628 menores ainda estavam separados, dos quais 333 tinham os pais nos Estados Unidos e 295 em seus países de origem. Contudo, estima-se que o número real se aproxime de 1.000.
Outra medida afetará o gerenciamento da migração na fronteira, que Biden definiu como “caótica, cruel e confusa” durante o governo Trump. O novo presidente visa “restabelecer o sistema de asilo”, criando caminhos para que refugiados da América Central cheguem aos Estados Unidos.
A terceira ordem executiva busca revisar “de cima a baixo” todas as medidas recentes aprovadas pelo governo Trump que “estabeleceram barreiras” ao sistema legal de imigração, como penalidades aos estrangeiros que fazem uso de benefícios públicos e auxílios governamentais durante a estadia no país.
“O governo anterior decretou centenas de políticas que vão contra nossa história e minam o caráter dos Estados Unidos como uma terra de oportunidades abertas e acolhedoras”, disse um porta-voz da Casa Branca.
Essas ordens executivas sobre a imigração serão somadas às que foram assinadas por Biden em seu primeiro dia de mandato, como a suspensão da construção do muro na fronteira com o México, o fim do veto a viajantes de países muçulmanos e a extensão do programa Daca, que concede autorizações de trabalho e residência a jovens imigrantes sem documentos que foram trazidos ao país por seus pais na infância (os chamados “Dreamers”).
Fora as ações unilaterais que o presidente tem poder de fazer, Biden também enviou ao Congresso um projeto de lei para realizar uma reforma ampla e generalizada no sistema de imigração dos Estados Unidos. O principal ponto do texto é a construção de um caminho para a cidadania, que pode levar até oito anos, para os quase 11 milhões de imigrantes ilegais que já estão no país. Além disso, pretende facilitar o processo de imigração para trabalhadores qualificados e ampliar o programa de acolhimento a refugiados.
Contudo, imigração é um tema espinhoso, e o projeto deve enfrentar oposição dos republicanos no legislativo – e até mesmo dos democratas mais conservadores, ou que lidam com eleitorados conservadores. No Senado, onde a maioria democrata é especialmente exígua, o partido de Biden precisará de ao menos 10 votos de membros da oposição.
Caso seja aprovada, a lei provocaria a mudança mais radical na área desde o governo de Ronald Reagan, nos anos 1980, podendo gerar benefícios humanitários e econômicos. Por outro lado, a disputa entre linhas partidárias periga colocar em xeque a principal bandeira de Biden no país já dividido: a união.
(Com EFE)