As autoridades de Israel realizaram na última quarta-feira 28 uma inspeção nos escritórios da empresa NSO, responsável pelo software de espionagem Pegasus. A ação faz parte de uma investigação sobre abusos de spyware da empresa por vários clientes do governo.
Ao mesmo tempo, o ministro da Defesa do país, Benny Gantz, foi até Paris para uma reunião a respeito do software com a sua contraparte francesa. O presidente da França, Emmanuel Macron, está na lista vazada de 50.000 nomes que teoricamente foram selecionados como candidatos para vigilância por clientes da empresa.
Em conversa na última semana, Macron reiterou ao primeiro-ministro israelense, Naftali Bennett, a importância de “investigar adequadamente” as descobertas do projeto. De acordo com comunicado do governo, Gantz disse no encontro que o país está investigando o assunto “com a maior seriedade”.
Os primeiros relatos da mídia descreveram a inspeção como uma batida, porém o grupo responsável pelo software informou em comunicado que se tratava de uma “visita” previamente avisada pelo Ministério da Defesa. “A empresa está trabalhando com total transparência com as autoridades israelenses”, dizia a nota.
O governo afirmou que a vistoria foi conduzida por vários órgãos estatais e estava relacionada à divulgação do escândalo envolvendo o programa Pegasus. De acordo com a lista vazada, clientes em todo o mundo usaram o programa para espionar políticos, jornalistas e ativistas. Por sua vez, a NSO disse que a lista vazada não tinha relação com a companhia e que não havia indicativo de que os números seriam uma lista de alvos potenciais.
O aparecimento do número de celular não significa que, de fato, houve uma tentativa de espionagem. No entanto, acredita-se que a relação tenha sido feita por clientes do grupo israelense como potenciais pessoas de interesse. Segundo análise forense da Anistia Internacional, há sinais do Pegasus em 37 dos 67 celulares analisados.
À medida que as divulgações se tornam mais claras, cresce a pressão internacional sobre o governo de Israel para explicar a relação entre a empresa e o governo durante o mandato do ex primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu. De acordo com as investigações, o governo israelense deu à NSO permissão explícita em 2017 para vender seu software para a Arábia Saudita, em um negócio supostamente avaliado em 55 milhões de dólares.
No último sábado, 24, o chefe do WhatsApp, Will Cathcart, disse ao The Guardian que autoridades de governos aliados dos Estados Unidos estavam entre os 1.400 alvos do Pegasus após o aplicativo apresentar uma vulnerabilidade no recebimento de chamadas entre abril e maio de 2019.
De acordo com Cathcart, há relação entre o ataque ao Whatsapp e a divulgação da lista. Para ele, o número de 50.000 telefones não é um exagero, uma vez que 1.400 pessoas se tornaram alvos em apenas duas semanas. A NSO afirmou na época que não atua diretamente na aplicação de suas tecnologias e que somente oferece o seu produto aos clientes. O Facebook, dona do aplicativo de mensagens, contestou a informação alegando ter evidências de que a criadora do software também auxiliou em sua operação.
O ministro da Defesa de Israel já defendeu a exportação dessas ferramentas de hacking em uma conferência na última semana. Segundo ele, os países que compram os produtos devem se responsabilizar pelos termos de uso, que são exclusivamente para investigações criminais e terrorismo.
Apesar disso, o estabelecimento de defesa israelense nomeou uma comissão para avaliar se mudanças na política de vendas de tecnologias de vigilância cibernética devem acontecer.