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Austrália vai às urnas em batalha sobre futuro do clima

A pauta das mudanças climáticas pode destronar o Partido Liberal do premiê Scott Morrison, no poder há nove anos

Por Amanda Péchy
21 Maio 2022, 08h00
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  • Os australianos vão às urnas neste sábado, 21, com o Partido Trabalhista, liderado por Anthony Albanese, na esperança de encerrar nove anos de governo conservador. Em jogo está a política de uma nação que é uma potencial superpotência de energia renovável, mas ainda obtém 70% de sua eletricidade e cerca de um quarto de suas exportações de combustíveis fósseis. Apressar o fim da sua vasta indústria de carvão do país seria uma grande contribuição para o aplacar a crise climática.

    A política australiana é dominada por dois grandes partidos: o Partido Liberal, de centro-direita, e o Partido Trabalhista, de centro-esquerda. O partido que obtiver a maioria – 76 dos 151 assentos na Câmara dos Representantes – forma um governo, e o líder do partido se torna primeiro-ministro. Se nenhum deles obtiver maioria, deve-se formar uma coalizão com um partido menor.

    O atual governo é uma coalizão entre o Partido Liberal e o Partido Nacional, menor e mais conservador, que normalmente representa agricultores e eleitores regionais. Liderada pelo atual premiê Scott Morrison, a coalizão vai para a eleição com 75 dos 151 deputados na Câmara, um a menos da maioria necessária para governar sem apoio de outras legendas.

    Morrison é um conhecido apoiador da indústria de carvão. Em 2017, ele trouxe um pedaço de carvão do tamanho de uma bola de futebol ao parlamento, para criticar o partido da oposição por seus planos de energia renovável. Seu governo, além disso, investiu dezenas de milhões de dólares em novos projetos de gás, enquanto o resto do mundo desenvolvido se concentra na transição para a energia verde.

    A Austrália é um dos principais exportadores mundiais de carvão e gás natural. De acordo com a Climate Analytics, o país é responsável por cerca de 5% das emissões globais – o quinto maior emissor do mundo.

    A população não está contente com o título. Uma pesquisa realizada no ano passado pelo Lowy Institute, com sede em Sydney, mostrou que 55% dos australianos dizem que a principal prioridade do governo para a política energética deveria ser “reduzir as emissões de carbono”.

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    Por isso isso, o Partido Liberal de Morrison está sob pressão em redutos geralmente seguros no centro da cidade, que foram alvo de campanhas populares focadas na luta contra a crise climática – e apoiadas por milhões de dólares em doações do grupo de lobby Climate 200.

    A pauta do clima é a mais central entre candidatos independentes, ao lado de bandeiras anticorrupção e de desigualdade de gênero. Ou seja, todas as áreas em que o governo de Morrison é visto como fraco.

    Caso a população seja balançada pelas propostas progressistas, isso poderá resultar em um “parlamento pendurado”, o primeiro desde 2010. Na Câmara Alta, onde partidos menores têm mais chances de eleição e maiorias gerais são raras, os Verdes esperam ganhar três assentos, o que elevaria a equipe do partido no Senado para 12. Nessa dança das cadeiras na Câmara, Morrison pode ser destronado.

    Apesar da pressão dos independentes e dos Verdes para colocar o aquecimento global na agenda, nenhum dos principais partidos se comprometeu com uma forte ação climática. A coalizão governista se comprometeu, depois de muita relutância do Partido Nacional, de base rural, com uma meta de emissões líquidas zero até 2050, mas inclui novos projetos de gás no plano de economia.

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    A meta do atual governo de redução de emissões a curto prazo é metade do que o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) diz ser necessário limitar o aquecimento do mundo a 1,5°C, como prevê o Acordo de Paris. Após anos de guerra dentro da coalizão, Morrison cedeu à pressão da COP26 e determinou que a Austrália deverá cortar 26% dos gases do efeito estufa até 2030, objetivo chamado de “grande decepção”.

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    Já Partido Trabalhista apresentou um plano modesto baseado na construção de linhas de transmissão mais eficientes e na redução das emissões industriais. As propostas foram apoiadas pelo lobby empresarial, vistas como passos em direção a uma política crível. Sua meta de redução de emissões até 2030 é de 43%, mais ambiciosa.

    A legenda está à frente nas pesquisas de opinião desde o início da campanha, mas patinou na última semana da campanha e é assombrada por seu fracasso na última eleição, em 2019, quando as pesquisas erraram ao sugerir que venceria o pleito. No caso de um parlamento pendurado provável que tenham que ceder às políticas climáticas mais agressivas dos independentes e dos Verdes.

    Talvez por isso, não só australianos, mas o mundo todo deveria prestar atenção nesta eleição. Se líderes globais estabelecerem metas semelhantes às propostas pela coalizão que pleiteia a reeleição, o mundo estaria caminhando para um aquecimento de mais de 3°C, com consequências desastrosas para a natureza e a humanidade.

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    Em sua campanha, Morrison prometeu mudar a forma como governa se for reeleito, admitindo agir “um pouco como um trator”.

    Albanese, por sua vez, baseou a campanha no fato de não ser Scott Morrison.

    “Este governo está lá há quase uma década, este primeiro-ministro teve quatro anos no cargo, e o que ele está dizendo é ‘se você votar em Scott Morrison, eu mudo’. Bem, se você quer mudança, mude o governo”, disse Albanese.

    O líder trabalhista, que entre 2010 e 2013 foi o gerente de negócios do governo mais produtivo da história da Austrália, afirmou que se Morrison é um trator, ele é um “construtor”.

    “Um trator destrói coisas. Um trator derruba as coisas. Eu sou um construtor, é isso que eu sou. Vou construir coisas neste país”, disse. Após o pleito, seu apoio no parlamento dirá se essa construção será verde ou cor de carvão.

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