Audiência em Guantánamo é suspensa após defesa revelar que réu é espião do FBI
Advogados alegaram que a defesa do acusado seria prejudicada por não poderem revelar as atividades do réu como espião
Os julgamentos militares de suspeitos de terrorismo na prisão de Guantánamo, em Cuba, foram suspensos nesta segunda-feira após a revelação de que um dos réus era espião do FBI (a polícia federal americana) e poderia estar espionando tanto seus colegas de prisão como o próprio processo legal conduzido pelo Exército. Segundo o jornal britânico The Guardian, o juiz militar James Pohl suspendeu as oitivas iniciais apenas 30 minutos depois do início de julgamento.
Segundo o jornal, a defesa dos presos acusados por envolvimento no atentado terrorista de 11 de setembro de 2001 informou ao juiz que um dos suspeitos – que não teve sua identidade revelada – tinha sido cooptado pelo FBI para ser um informante secreto. O objetivo do FBI era investigar como um manifesto assinado pelo arquiteto Khalid Shaikh Mohammed, um dos acusados do 11 de setembro, foi vazado para a imprensa. Os advogados argumentaram que o governo os tinha colocado em posição flagrante de conflito de interesses, prejudicando a defesa ampla do acusado. Eles afirmaram que no curso do julgamento seria necessário encobrir o trabalho de espião de seu cliente, colocando o interesse do país na frente dos interesses da defesa do réu.
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Os defensores pediram para o juiz Pohl investigar a situação e, se necessário, designar novos advogados independentes para os réus, levando em consideração as implicações do conflito de interesses. O pedido e a complexidade de sua natureza podem atrasar ainda mais o julgamento que já se arrasta há dois anos desde que os depoimentos sobre o caso 11 de setembro começaram. “Temos uma situação impossível em termos de defesa de nosso cliente… sobre quaisquer assuntos”, disse James Harrington, um advogado civil de um caso que pode acarretar em pena de morte.
Em 6 de abril, dois agentes do FBI se aproximaram dos advogados de defesa e mostraram um documento que “na sua essência, servia para mostrar o recrutamento de pessoas” para ajudar em uma investigação sobre o vazamento de dados relevantes do caso, disse Walter Ruiz, advogado do réu Mustafa Ahmed al-Hasawi, que é um dos que estão sendo julgados. Em acréscimo, Harrington afirmou que o documento mostrava o início de uma “relação em curso” com o FBI. Cheryl Bormann, advogada do réu Walid bin Attash, advertiu que ela e seus colegas não tinham como saber se outros acusados também foram secretamente alistados para serem informantes do FBI. Ela e outros advogados disseram que a questão efetivamente paralisou a capacidade de representar os seus clientes.