O ministro do Interior da Eslováquia, Matúš Šutaj Eštok, afirmou nesta quarta-feira, 15, que a tentativa de assassinato contra o primeiro-ministro do país, Robert Fico, teve “motivação política”. O líder eslovaco foi baleado cinco vezes à queima-roupa nesta manhã, logo após uma reunião do governo em um centro comunitário da cidade de Handlova, a cerca de 180 km da capital, Bratislava.
“Posso confirmar que houve uma tentativa de assassinato”, disse Eštok a jornalistas locais. “O atirador atirou cinco vezes… a primeira informação que temos é que se trata de um ato com motivação política”, acrescentou.
“Guerra civil”
Segundo Eštok, o atirador decidiu atacar Fico após as eleições presidenciais da Eslováquia, em abril deste ano, nas quais seu aliado, Peter Pellegrini, saiu vitorioso. O chefe da pasta do Interior afirmou que, como forma de precaução, a segurança dele e outros ministros será reforçada.
“Quero apelar ao povo, aos jornalistas e a todos os políticos para pararem de espalhar ódio”, disse ele, referindo-se tanto a críticas contra a oposição quanto à coalizão no governo. “A incapacidade que as pessoas têm de aceitar alguma decisão de que não gostam levou ao que aconteceu hoje”, disparou, em referência ao atentado contra fico.
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“Estamos à beira de uma guerra civil. A tentativa de assassinato do primeiro-ministro é uma prova disso”, concluiu Eštok.
O suposto agressor foi detido pela polícia, disseram jornalistas locais. A presidente eslovaca, Zuzana Caputová, disse que a polícia e outras agências divulgarão mais informações sobre o suspeito assim que puderem e também pediu que a população não espalhe rumores não confirmados.
“Lutando pela vida”
Segundo comunicado publicado na página oficial de Fico, o líder eslovaco passou por uma cirurgia de três horas e meia após ser transferido às pressas de Handlova para Banská Bystrica, onde foi internado em um hospital.
“Ele está lutando pela sua vida”, disse o ministro da Defesa, Robert Kaliňák, a repórteres em frente ao hospital onde Fico foi operado. “Esperamos que ele seja forte o suficiente para sobreviver.”
Kaliňák também informou que o primeiro-ministro sofreu “um politrauma”, e que informações de saúde mais detalhadas serão divulgadas posteriormente. Por enquanto, “não há boas notícias”, destacou o ministro.
A política de Fico
O premiê eslovaco é polêmico. Conhecido por atitudes nacionalistas e populistas, admira tanto Vladimir Putin (já disse que não permitiria a prisão do presidente russo por meio de um mandado internacional se ele fosse para a Eslováquia), como o líder da Hungria, Viktor Orbán, semi-autocrata que Fico avalia “defender os interesses do seu país e do seu povo”.
Mas o líder da Eslováquia não é preto no branco, e aparenta ser grande estrategista. Ao longo de uma carreira de três décadas, navegou com sucesso entre os políticos do establishment e pró-União Europeia, bem como por uma retórica feroz de nacionalismo anti-Ocidente. Dependendo da situação ou da opinião pública, ele se mostra mais do que disposto a mudar de rumo.
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Nas últimas eleições, sob a justificativa de que só tem os interesses eslovacos em mente, Fico enveredou por ataques à União Europeia e ONG internacionais, além de insultar rivais com falsas acusações a respeito de um suposto plano de golpe. Ele também incendiou a opinião pública ao se opor veementemente à imigração – um fator chave na sua vitória eleitoral em 2016 – e rejeitar que haja comunidades muçulmanas na Eslováquia. Mais recentemente, criticou a união de pessoas do mesmo sexo, taxando de “perversão” a adoção de filhos por casais gays.
Durante a pandemia de Covid-19, ele também foi a voz mais proeminente do país contra o uso de máscaras, confinamentos e a vacinação. Antes de voltar ao cargo de premiê em outubro passado, explorou um sentimento pró-Rússia, que é grande na Eslováquia, para minar o rumo pró-Ocidente do governo anterior.