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Após temporada com 10 mortos, Nepal atrasa medidas de segurança no Everest

Novas regras para escalar a montanha mais alta do mundo serão aplicadas a partir da temporada de 2021

Por Maria Clara Vieira 8 mar 2020, 21h44

Feita em maio do ano passado, a foto acima correu o mundo e causou revolta nas redes sociais: mais de 800 pessoas espremidas em uma fila a 8 000 pés de altura (onde se considera que o corpo humano começa a perder suas funções devido ao frio extremo e ao ar rarefeito) esperando por até 12 horas para tirar uma selfie no topo da montanha mais alta do mundo. Só no ano passado, a empreitada rumo ao cume do Monte Everest matou 11 pessoas. Apesar de o número não ser acima da média, a imagem mobilizou profissionais do alpinismo, que há anos reclamam do excesso de viajantes inexperientes no trajeto. São estes, afinal, as vítimas mais frequentes da exaustão, a principal causa de óbitos neste tipo de empreitada. Em agosto do ano passado, o governo nepalês afirmou que endureceria as regras para a escalada. Agora, informa que a medida não será válida para próxima temporada.

Depois da temporada de 2019 – a quarta mais mortífera da história – pesou sobre o governo do Nepal a responsabilidade de ter concedido o número recorde de 381 permissões (cada uma a 11 000 dólares) para que montanhistas de diversos níveis tentassem a sorte no alto de seu principal ponto turístico – e fonte de renda. As expedições contam ainda a presença dos xerpas, acompanhantes nativos contratados pela maioria dos aventureiros ocidentais para a empreitada; o que resultou na fila exorbitante rumo ao topo da montanha. A possibilidade de regulação chegou a ser rechaçada pelo diretor do departamento de turismo nepalês, Danduraj Ghimire que afirmou que, se a intenção é limitar as entradas, é mais fácil “acabar com as expedições na nossa montanha sagrada”. A negativa, para os especialistas, se deve à forte dependência do Nepal, um dos países mais pobres do mundo, com relação ao turismo.

A pressão internacional, entretanto, levou o governo a baixar o tom. Em agosto, o ministro do turismo, Yogesh Bhattarai, assumiu um discurso de preocupação: “O Everest não pode ser escalado com base em desejos”, disse, ao anunciar as mudanças. De acordo com as regras prometidas, os alpinistas que quiserem encarar a empreitada deverão provar que já escalaram outro pico de dificuldade equivalente, enquanto as empresas organizadores serão obrigadas a ter ao menos três organizadores experientes em cada expedição. Para evitar que as companhias baixassem excessivamente os preços das expedições para compensar a perda de clientes (resultando em uma queda de receita para o país), os clientes deverão provar que pagaram ao menos 35 000 dólares pelo trajeto.

As medidas, entretanto, só devem valer a partir da temporada de 2021, de modo que os aventureiros deste ano podem se preparar para enfrentar as filas nas alturas. Nas palavras do secretário de turismo, Kedar Adhikari, as leis carecem de aprovação de outras instâncias do governo e as autoridades ainda precisam “checar se as operadoras de expedições estão OK com as restrições”. A negativa decepciona, mas não surpreende: a relação intrínseca do governo com as ditas empresas (que, em alguns casos, chegam a oferecer cilindros de oxigênio pela metade para os clientes) continua a se impor sobre a segurança dos montanhistas.

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