Sob a iminência de um conflito armado na fronteira com o Brasil, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não hesitou em atuar como mediador de uma reunião entre os presidentes da Venezuela, Nicolás Maduro, e da Guiana, Irfaan Ali, para tratar da disputa por Essequibo, território rico em petróleo que Caracas declarou intenção de anexar do país vizinho. Apesar de o encontro não ter rendido frutos significativos, ambas as partes prometeram “continuar o diálogo” e evitar que a situação tome proporções bélicas – motivo de comemoração suficiente para que a diplomacia brasileira recebesse um afago dos Estados Unidos.
Na noite de quinta-feira 14, após o fim das tratativas, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, fez um telefonema ao chanceler Mauro Vieira, para agradecer pelo papel do Itamaraty na diminuição das tensões que se acirraram na América do Sul após o governo venezuelano conduzir um referendo, há quase duas semanas, que aprovou a incorporação de Essequibo. Quem fez as vezes de mediador no encontro foi o assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Celso Amorim.
“Blinken agradeceu ao Brasil por sua liderança diplomática na busca de uma resolução pacífica da disputa entre a Venezuela e a Guiana sobre a região de Essequibo”, disse Matthew Miller, porta-voz do secretário de Estado.
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Segundo a Casa Branca, a fronteira terrestre entre a Venezuela e a Guiana deve ser respeitada, “a menos que – ou até que – as partes cheguem a um novo acordo – ou um órgão legal competente decida o contrário”.
Além disso, segundo comunicado de Miller, os dois diplomatas discutiram o apoio à Missão Multinacional de Segurança no Haiti. Em outubro, as Nações Unidas chancelaram o envio de uma força ao país, liderada pelo Quênia, para cooperar com a polícia nacional.
Reunião no Brasil
O trabalho do Itamaraty, porém, ainda está longe do fim. Segundo o documento resultante da reunião entre Maduro e Ali, representantes da Guiana e da Venezuela devem voltar a se encontrar, agora no Brasil, dentro de três meses, para uma segunda rodada de diálogos sobre Essequibo.
Por enquanto, ainda de acordo com a declaração conjunta, Guiana e Venezuela se comprometem a não ameaçar nem usar a força “um contra o outro em quaisquer circunstâncias, incluindo aquelas decorrentes de controvérsias existentes entre os dois Estados”. O documento afirma ainda que os países devem resolver disputas de acordo com o direito internacional.
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A disputa
A região conturbada, de 160 mil km², compõe 74% do território da Guiana, país que administra a área desde 1996, ano em que declarou independência do Reino Unido. A Venezuela contrapõe que o local foi retirado de seu domínio pela arbitrária Sentença de Paris, de 1899.
A disputa voltou a esquentar em 2015, quando foi descoberto petróleo na região de Essequibo. Estima-se que, por lá, existam reservas de 11 bilhões de barris. A maior parte estaria offshore, ou seja, no mar. Por causa das reservas fósseis, a Guiana tornou-se o país sul-americano que mais cresce nos últimos anos.