Após críticas e sanções, Xi defende ‘avanços’ em direitos humanos na China
Presidente chinês afirmou que organização usa questão humanitária como 'pretexto' para interferir em assuntos internos de outros países
O presidente China, Xi Jinping, alertou a chefe de direitos humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), Michelle Bachelet, nesta quarta-feira, 25, contra o uso da questão dos direitos humanos como uma “desculpa para interferir nos assuntos internos de outros países”. A reunião ocorre após o vazamento de dados de segurança que revelam violência contra os uigures, minoria muçulmana do país.
Em uma teleconferência com a alta comissária da ONU, o presidente chinês defendeu a política de seu governo afirmando que a China embarcou com sucesso em um caminho de direitos humanos que “se adapta às suas condições nacionais”. De acordo com informações da imprensa estatal chinesa, Xi Jinping também ressaltou que não existe “país perfeito” na questão, e que não é preciso que um “professor” comande outros países, claramente criticando a postura da organização internacional.
“Desviar-se da realidade e copiar completamente o modelo institucional de outros países não será apenas difícil de se ajustar, mas também trará consequências desastrosas e, no final, são as grandes massas do povo que sofrerão”, disse o líder chinês.
A presença de Bachelet na China representa a primeira visita de um alto comissário de direitos humanos da ONU ao país em 17 anos. A autoridade internacional disse ser uma prioridade se envolver diretamente com o governo chinês, em questões de direitos humanos “para que o desenvolvimento, a paz e a segurança sejam sustentáveis” local e globalmente.
“Estou ansiosa para aprofundar nossas discussões sobre essas e outras questões e espero que meu escritório possa acompanhar os esforços para fortalecer a promoção e proteção dos direitos humanos, justiça e estado de direito para todos, sem exceção”, disse a chilena.
Denúncias e sanções
A visita acontece em meio a denúncias de que pessoas da etnia uigur foram detidas ilegalmente, maltratadas e forçadas a trabalhar na cidade de Xinjiang. A região faz fronteira com o Paquistão e o Afeganistão e é o lar de milhões de uigures e outros muçulmanos turcos, que foram submetidos a uma campanha do governo chinês de controle cultural, linguístico e social e atos de opressão que a comunidade internacional classificou como genocídio.
O oeste da China tem grande presença de muçulmanos de origem turca. Há anos, a relação do grupo com o governo chinês é conflituosa por apresentar diferenças culturais e religiosas. Ativistas e especialistas das Nações Unidas afirmam que ao menos um milhão de muçulmanos estão detidos em campos na região. Junto a alguns políticos do Ocidente, os ativistas também acusam a China de tortura, trabalho e esterilizações forçados.
No ano passado, a União Europeia impôs sanções contra quatro autoridades chinesas por graves violações e abusos de direitos humanos com ligação à repressão aos muçulmanos uigures na região autônoma de Xinjiang. Embora majoritariamente simbólicas, as medidas marcam um endurecimento significativo das políticas europeias em relação ao país asiático.
Pouco depois, os Estados Unidos anunciaram a proibição das importações de produtos com origem na província de Xinjiang, tendo como justificativa a repressão feita por autoridades. A embaixada da China em Washington afirmou que o ato “ignora a verdade e calunia maliciosamente a situação dos direitos humanos”.
Documentos vazados na terça-feira, 24, e chamados “Arquivos da Polícia de Xinjiang”, revelaram milhares de fotos de uigures detidos e por supostos “crimes” como estudar as escrituras sagradas de sua religião. Os relatórios vazados também detalharam que os oficiais chineses tinham permissão para atirar e matar os detidos em tentativas de fuga.
Apesar do episódio recente, não houve menção a isso em nenhum dos comentários públicos feitos pelos dois lados sobre a conversa entre o líder chinês e Bachelet.