Alemanha chama China de ameaça crescente e aumenta foco em segurança
Em documento apresentado nesta quarta-feira, Berlim muda foco da sua estratégia dos interesses econômicos para a geopolítica
A Alemanha afirmou que a China é uma ameaça crescente à segurança global em sua primeira estratégia de segurança nacional nesta quarta-feira, 14. A declaração marca uma mudança de ênfase de Berlim dos interesses econômicos para a geopolítica após a o início da guerra na Ucrânia.
O documento de estratégia descreve diretamente Pequim como um ator que reivindica agressivamente a supremacia na Ásia e que busca usar seu poderio econômico para alcançar objetivos políticos. Ele destaca as principais ameaças que a Alemanha percebe que enfrenta, desde mudanças climáticas até interrupções na cadeia de suprimentos, incluindo especificidades políticas, como o compromisso de aumentar os gastos com defesa e criar uma agência para combater ataques cibernéticos.
“Esta é uma grande mudança que está sendo realizada por nós na Alemanha na forma como lidamos com a política de segurança”, disse Olaf Scholz, chanceler alemão, na apresentação do documento.
O documento, no entanto, não especifica quais questões devem ser combatidas e alguns tópicos importantes não são citados nominalmente, como o aumento de tensões envolvendo Taiwan.
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“No futuro, vamos pensar mais na política de segurança quando tomarmos decisões de política econômica”, disse Annalena Baerbock, ministra das Relações Exteriores da Alemanha. “Pagamos duas ou três vezes mais por cada metro cúbico de gás russo com nossa segurança nacional”.
O relatório também destaca a necessidade de a Alemanha reduzir todas as dependências de outros países por commodities e incentivar as empresas a manterem reservas estratégicas. A dependência alemã com a Rússia para cerca de metade de suas importações de gás impediu o país, por exemplo, de cortar comércio de energia com Moscou imediatamente após a invasão na Ucrânia.
Além disso, a a dependência da Europa com a China para minerais essenciais é fundamental para a transição para uma economia neutra em carbono. Logo, a questão passou a ser relevante para as autoridades alemãs.
“A China está deliberadamente exercendo seu poder econômico para atingir objetivos políticos”, diz a a Estratégia de Segurança Nacional (NSS).
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A China é o parceiro comercial mais importante da Alemanha e um mercado central para as principais empresas alemãs, incluindo Volkswagen e BMW. Mesmo que essa dependência esteja sendo visada, muitos CEOs alemães alertaram sobre os riscos de cortar ou reduzir os vínculos com a segunda maior economia do mundo. O CEO da Mercedes-Benz, Ola Kaellenius, disse em abril que a separação da China era “impensável para quase toda a indústria alemã”.
Porém, para muitas empresas, a dependência da China para matérias-primas precisa ser avaliada. O governo disse que funcionários estatais mantiveram “conversações intensas” com empresas ativas na China.
“O bom é que as empresas alemãs estão tirando conclusões semelhantes às do governo federal alemão”, disse Baerbock.
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Conservadores do Parlamento também acreditam que a estratégia carece de clareza sobre a criação de uma nova ordem de segurança para a Europa, como a forma como a Moldávia e a Geórgia poderiam ser protegidas da Rússia e se a Ucrânia deveria ingressar de fato na Otan.
Dias após a invasão russa à Ucrânia, Scholz anunciou uma mudança para uma nova era na qual disse que a Alemanha investiria mais de 2% da produção econômica em defesa. A promessa do NSS é mais fraca e estabelece o investimento de 2% da produção econômica “em média durante um período de vários anos”.