Mohammed Siali.
Cairo, 30 abr (EFE).- Um ano depois da morte de Osama bin Laden, a Al Qaeda deve se redefinir no mundo árabe, onde os protestos populares estão dando passagem ao auge dos islamitas, o que deixa a organização sem seu pretexto para cometer atentados: o de combater os ‘regimes infiéis’ da região.
Em apenas um ano, a linguagem da organização terrorista mudou de um tom bélico a outro menos violento para tomar para si o êxito da Primavera árabe e tentar orientar ideologicamente a transição nos países onde a revolução triunfou.
A emergência dos islamitas em lugares como Egito, Tunísia e Líbia empurrou a Al Qaeda a dar uma explicação divina aos resultados das revoltas populares.
Em um de seus últimos discursos, seu novo líder, o egípcio Ayman al Zawahiri, considerou que foi Deus quem levou os islamitas à vitória nesses países, e justificou os atentados como uma forma de pressionar o Ocidente para que deixe de proteger os regimes autocráticos, o que ajudou ao triunfo dos protestos.
No caso do Egito, a Irmandade Muçulmana e os salafistas (muçulmanos rigoristas) conseguiram dominar quase 70% das cadeiras do Parlamento, após arrasar nas primeiras eleições legislativas depois da queda do regime de Hosni Mubarak em 11 de fevereiro de 2011.
A Irmandade Muçulmana se comprometeu a um renascimento integral, uma ‘revolução islâmica’ que levará de forma gradual à criação de um modelo de sociedade e de Estado puramente islâmicos, adaptados à modernidade, mas dentro dos limites aceitos pela ‘sharia’ (lei islâmica).
Esta visão não difere muito dos programas políticos dos salafistas, nem das ideias de xeques próximos à Al Qaeda, embora estes últimos queiram a aplicação imediata da ‘sharia’ e anunciam uma guerra santa contra o Ocidente, a quem acusam de proteger os regimes infiéis na terra do islã.
Apesar da redução dos ataques da Al Qaeda nos países árabes mais estáveis, a rede terrorista continua ativa em Estados como Iêmen ou Iraque, onde funcionam grupos autônomos leais à organização.
Desde a invasão americana de março de 2003, o Iraque é um dos principais locais de atuação da Al Qaeda, que também teve que se adaptar à nova situação após a retirada das tropas americanas no dia 19 de dezembro.
Durante a ocupação dos Estados Unidos, as tropas deste país foram um dos alvos preferidos da organização, que depois da retirada centrou seus ataques contra os xiitas e as forças de segurança do Governo do primeiro-ministro, Nouri al Maliki, próximo ao regime do Irã.
Outro foco com presença da Al Qaeda é o sul do Iêmen, onde o grupo ‘Ansar al Sharia’, relacionado com a rede, controla vários povoados e localidades da província meridional de Abian.
A Al Qaeda já estava implantada no Iêmen, o país mais pobre da península Arábica, mas a instabilidade política derivada dos protestos que acabaram com o regime de Ali Abdullah Saleh levou a organização a se tornar mais forte no sul e alcançar o controle de várias cidades.
A Al Qaeda conta com campos de treinamento no país, segundo as autoridades iemenitas, que dispõem da ajuda dos EUA para combater o terrorismo.
De fato, alguns dos principais golpes contra esta organização, incluindo o de 22 de abril, que matou o responsável financeiro da Al Qaeda na Península Arábica, tiveram a atuação dos ‘drones’, aviões não tripulados americanos.
Já na Síria, onde a Primavera árabe gerou uma onda de violência, existe confusão sobre a hipotética presença da Al Qaeda em seu território.
O regime de Bashar al Assad atribuiu em várias ocasiões ao grupo a responsabilidade pelos atentados cometidos nas duas principais cidades do país, Damasco e Aleppo, embora a oposição negue e diga que as autoridades estão por trás delas.
No entanto, fontes oficiais americanas apontaram em fevereiro que o galho da Al Qaeda no Iraque poderia estar por trás de dois atentados em Damasco, informou o grupo de jornais ‘The McClatchy Company’.
Essas fontes explicaram que, segundo relatórios de inteligência, a facção iraquiana da Al Qaeda começou a se envolver na revolução síria quando as autoridades lançaram as primeiras ofensivas contra a população civil. EFE