A caminho da prisão, ex-faz tudo de Trump alerta: “ainda há muito a dizer”
O ex-advogado do presidente americano, Michael Cohen, começa a cumprir pena de três anos por sonegação de impostos e lavagem de dinheiro
Pouco antes de entrar no presídio federal de Otisville nesta segunda-feira, 6, Michael Cohen, ex-advogado e faz-tudo de Donald Trump, fez um alerta pouco tranquilizador para a Casa Branca. “Ainda há muito a dizer. E espero ansiosamente o dia que poderei compartilhar a verdade”, declarou o responsável por comprar o silêncio de mulheres com quem seu chefe teve relacionamentos íntimos.
Cohen, de 52 anos, cumprirá uma pena de três anos de prisão pelos crimes de sonegação de impostos e e de mentir ao Congresso dos Estados Unidos. Também foi condenado tentar coagir e pagar as ex-amantes de Trump, entre as quais a atriz pornô Stormy Daniels.
Admirador de Trump e seu colaborador fiel por muito tempo, Cohen chegou a dizer que estaria disposto a “tomar um tiro” no lugar do atual presidente. Mas, para reduzir as penas por seus crimes, firmou um acordo de delação premiada e ofereceu à Justiça informações que pudessem comprometer Trump e sua família. Inclusive as relacionadas à interferência russa na campanha eleitoral de 2016, que levou o magnata à Casa Branca.
Mas mesmo que o procurador especial Robert Mueller tenha feito referência a Cohen mais de 100 vezes em seu relatório sobre o “Russiagate”, os procuradores federais não mudaram sua decisão sobre o ex-advogado do presidente. Mueller não recebeu nenhuma redução em sua pena.
“Como o Congresso eliminou a liberdade condicional em 1987, o máximo que pode esperar é uma redução de 15% de sua sentença por ‘bom comportamento'”, comentou o advogado criminalista Harlan Protass. “Também é provável que passe os últimos seis meses de sua sentença em um centro de reabilitação”, acrescentou.
Filho de um sobrevivente do Holocausto e de uma enfermeira, Cohen é um dos assessores próximos do presidente dos Estados Unidos a ser preso por um período considerável. Outro nome de relevo é Paul Manafort, ex-diretor da campanha eleitoral de Trump, foi condenado a mais de 7 anos de prisão.
Cohen trabalhou para a Organização Trump por uma década e insiste que todos os atos pelos quais foi condenado ocorreram a mando do presidente. “Por que eu sou o único?”, questionou o ex-faz-tudo em uma entrevista à revista The New Yorker.
“Não trabalhei para a campanha. Trabalhava para ele. Por que eu sou o único que vai para a cadeia? Não fui eu quem dormiu com a estrela pornô”, acrescentou, referindo-se a Stormy Daniels.
O advogado de Cohen, Lanny Davis, disse na sexta-feira 3 que o filho mais velho do presidente, Donald Trump Jr., deveria ter sido preso porque foi quem “assinou os cheques” para pagar as amantes.
Para o presidente americano e seus aliados, porém, a sentença contra Cohen tem sabor de vingança. Afinal, o antes leal colaborador voltou-se contra ex-chefe. Trump o chamou de “fraco” e de “rato” pelas redes sociais e disse que Cohen estaria disposto a inventar as mentiras necessárias para evitar a prisão.
Neste fim de semana, Cohen disse a repórteres que foi seguido em Nova York enquanto passava seus últimos momentos de liberdade com seu filho Jake. Também garantiu que fará novas declarações nesta segunda-feira antes de ir para a cadeia.
O ex-advogado deverá ser mantido na ala de baixa segurança da penitenciária, que abriga prisioneiros que não são considerados perigosos, incluindo muitos condenados por crime de colarinho branco. Os 120 presos dessa ala podem usar bibliotecas, além de jogar basquete e tênis.