Há dois anos, a 99 foi vendida à chinesa Didi Chuxing por quase 1 bilhão de dólares. O que mudou desde então? A 99 é conhecida como o primeiro unicórnio brasileiro. De lá para cá, surgiram outros vinte, pelo menos. O ecossistema brasileiro como um todo melhorou e entramos em um jogo mais global. Com essa mudança de patamar, não tem como dar passos para trás. Isso traz benefícios imensos para o país e é o motor para o progresso.
Em meio à pandemia, é o momento para falar sobre empreender? Posso dizer que nunca houve momento melhor do que o atual. Com a crise deflagrada pelo novo coronavírus, todas as empresas tiveram de se digitalizar e o campo se tornou um terreno fértil para empreendedores. Além disso, há muito capital disponível, pois diversos fundos de venture capital captaram muito bem no ano passado. Com as demissões em razão da pandemia, pessoas talentosas estão disponíveis no mercado. Empreender, na essência, é provocar mudanças. Se há um momento que o contexto obriga a sociedade a mudar, o empreendedor deve tirar proveito dele.
O setor de transportes, como o de aplicativos de mobilidade, foi muito prejudicado. É um alívio ter vendido a empresa dois anos atrás? Certamente, a pandemia teria sido um stress muito grande, e a teríamos vendido em condições muito piores. A Uber tinha muito mais dinheiro. Não tínhamos um final claro nessa competição. A indústria de aplicativos de mobilidade passou por grandes dificuldades, as empresas queimam caixa e dependem de investidores. Bicicletas e patinetes, por exemplo, não deram certo.
Qual foi a principal conquista com as transformações impulsionadas pelos aplicativos de mobilidade? Quando começamos, em 2012, foi uma grande revolução. Além da tecnologia, o ambiente se abriu para mudanças culturais e na legislação. Atualmente, o consumidor tem a opção de escolher se quer pagar por um táxi ou economizar um pouco e chamar um motorista particular. No auge da briga pela participação de mercado, era impensável imaginar a Uber com uma categoria para táxis. Agora isso aconteceu. Até a Uber teve de se render.
Publicado em VEJA de 2 de setembro de 2020, edição nº 2702