Estrela de um programa culinário na TV aberta, a chef argentina Paola Carosella ficou feliz da vida quando, após divulgar pela primeira vez um vídeo de uma receita caseira em seu pouco usado canal no YouTube, viu o número de seguidores catapultar de 4 000 para 500 000. Aí veio o choque de realidade: um telefonema do influenciador Felipe Neto perguntando por que tão pouca gente a seguia. “Ele disse que eu precisava fazer uma coisa mais profissional. Conversamos e fechamos uma parceria”, conta. Com assessoria do estúdio de conteúdo de Neto, a Play9, Paola passará a apresentar três programas – para começo de conversa – no canal, que terá novo cenário e novo nome, ainda não definido, e a ambição de fazer da própria Paola uma influenciadora digital. A empreitada faz parte do plano de diversificação de negócios que a chef já tinha em mente quando teve que fechar, temporariamente por alguns meses, seus dois restaurantes. “Perdemos 40% do faturamento, mas nunca deixamos de funcionar”, relata, orgulhosa.
Quando surgiu este interesse pelo Youtube?
Foi tudo muito recente. Eu e meu marido, Jason Lowe, que é fotógrafo de comida e diretor de curtas, documentários e comerciais, queríamos fazer algo juntos. Em novembro do ano passado decidimos fazer um vídeo despretensioso sobre uma receita e jogamos no canal que eu tinha para assistir vídeos.
Você acabou de fechar um contrato em parceria com a empresa do youtuber Felipe Neto que vai servir como um consultor em seus vídeos. Decidiu aprender a mexer e a profissionalizar seu canal?
Eu já estava fazendo os vídeos do “Nossa Cozinha”, que são receitas caseiras, com ingredientes simples, que fazia da cozinha da minha casa mesmo ao lado do Jason. Mas eu fazia apenas um vídeo por semana. O Felipe disse que acreditava no potencial dos vídeos e que gostava do que eu estava fazendo, mas que eu precisava de algo mais profissional, e como sou perfeccionista em tudo o que eu faço, escutei ele. Sentamos para conversar e fechamos essa parceria.
Quais serão as principais mudanças para este novo canal?
Vai mudar tudo. Desde o cenário até o nome. Agora, o “Nossa Cozinha” será um dos programas do canal. Já estamos pensando em três formatos diferentes. Antes eu postava vídeos todas as sextas-feiras, agora iremos lançar de dois a três conteúdos por semana. Além do Nossa Cozinha, que são receitas mais cotidianas, teremos um quadro para grandes receitas, outro para eu responder perguntas dos espectadores. Teremos um apenas do Jason viajando pelo Brasil em busca de ingredientes novos e depois, quando ele chegar, eu vou cozinhar um prato com esses ingredientes. Está sendo uma oportunidade bem divertida por eu poder ficar mais tempo ao lado dele e fazer algo fora da televisão.
A última temporada de MasterChef, encerrada no final de dezembro, foi muito criticada pelo novo formato – participantes novos a cada semana com um vencedor diferente. Você acredita que o novo formato fez o programa perder a essência?
Quando você muda o formato de um programa que está há muitos anos no ar é natural que tenha críticas, mas a minha percepção é um pouco diferente. Em todas as edições do programa, esta foi a primeira vez que eu vi uma competição verdadeira de gastronomia. O vencedor ganhava e ia embora. Não tinham outras nuances. Havia pessoas que representavam o perfil do verdadeiro cozinheiro amador no Brasil. Eram homens e mulheres que aprenderam aquelas receitas com suas mães, avós, bisavós – mulheres e heroínas de sua história. Foi lindo e emocionante.
Emocionante como o bife acebolado do primeiro episódio?
Eu recebi comentários de aprovação, mas muito criticada por ter dado o troféu a um participante que fez um “simples” bife de fígado acebolado. A prova era da cesta básica e ele apresentou um prato que tinha arroz branco, salada de repolho e bife acebolado. Ele fez um prato simples, que representa o prato do povo brasileiro e com um sabor grandioso. Em momentos como esse que estamos passando, as pessoas precisam entender o sentimento e o significado de um bife acebolado.
Na pandemia você foi obrigada a fechar seus restaurantes e a criar um delivery para o Arturito. Como foi esse processo?
Fechamos em março todos os restaurantes. O nosso café de empanadas já fazia entregas a domicílio e era forte , mas o Arturito nunca teve delivery e não tinha pratos que caberiam em um delivery. Eu pensei que poderíamos falir, o que significa demitir mais de 40 pessoas. E isso era inviável. Eu primeiro fiz uma triagem de quem poderia trabalhar – as pessoas que não tinham ninguém de risco em casa ou que não faziam parte do grupo de risco – ficou uma equipe de 30% do total, mas todos os meus funcionários receberam seus salários completos. Nenhum deles ficou sem receber. Mergulhei na cozinha para pensar em pratos novos que pudessem ser transportados dentro de uma moto. Perdemos 40% do nosso faturamento, mas não fechamos. Então, todo o sacrifício, deu, e continua dando, certo.