Tem ganhado popularidade nas rodas de luxo ao redor do mundo o conceito de fine water ou água gourmet. Para esse grupo de endinheirados, a água – a exemplo do que se vê com vinhos, espumantes e azeite, por exemplo – tem um terroir que pode influenciar a experiência de quem consome e, é claro, o custo de experimentar. Uma dessas garrafas, exclusivíssima, é produzida com o líquido extraído dos rios voadores da Amazônia e irá a leilão, em novembro, pelo valor estimado de 910 mil dólares (o equivalente a 5 milhões de reais).
Chamada de Victoria Amazônica, a água foi coletada diretamente do ar na maior floresta do mundo, durante uma noite de lua cheia. Os 1 500 mililitros foram envasados em uma garrafa adornada com quatro quilos de ouro 24 quilates, prata, quatro turmalinas azuis, 200 diamantes brancos e 350 diamantes negros – o status é de obra de arte.
Ao contrário do que parece, contudo, o ornamento não é o único atrativo. Em especial na última década, características da água, como acidez e quantidade de determinados minerais passaram a agregar um valor considerável — daí a ideia de terroir, que descreve as características adquiridas pelo líquido a depender do local e das condições de extração e armazenamento.
E não é apenas moda. Embora exclusivo para grupos mais abastados, as cartas de água tem ganhado espaço em restaurantes, com líquidos extraídos, por exemplo, de geleiras e locais remotos, e critérios de avaliação definidos por entidades, como Fine Water Society, e avaliados por sommeliers especializados.
Embora se trate de uma realidade distante para a maior parte da população e antiética de acordo com alguns especialistas, as águas gourmet já movimentam o mercado, representando quatro por cento do consumo global e mais de 20 bilhões de dólares, segundo a consultoria Zenith Internacional. Os preços podem variar. Com cristais Swarovsky, garrafas da Bling H2o podem custar de 39 a 2 700 dólares (entre 213 e 14 mil reais), enquanto os exemplares da Fillico, extraídas nas montanhas Rokko, custam ao menos 499 euros (cerca de 3 mil reais).
Se for arrematada pelo preço sugerido, a Victoria Amazônica se tornará o exemplar mais valioso do mundo, em substituição a Aurum 79, que foi leiloada por 900 mil dólares. O brilho financeiro, no entanto, não é o único objetivo aqui. “O projeto vai além de criar a água mais valiosa do mundo”, diz Cal Junior, fundador e presidente da Ô Amazon Air Water, empresa responsável pela criação, em comunicado. “É um manifesto amazônico que promove o desenvolvimento consciente da região. Lançado nesta ação de artivismo que evidencia o enorme valor agregado da floresta.”
De todo o montante arrecadado, cerca de 1,5 milhão de reais serão destinados a dez projetos socioambientais, sendo o principal deles voltado para crianças ribeirinhas de Barcellos, uma pequena comunidade às margens do Rio Negro. Além da Ô Amazon Air Water, também fazem parte da iniciativa a Tanjô Fábrica de Jóias e a Atlantis Inteligência de Comunicação.
Os idealizadores ainda esperam que essa seja uma maneira de trabalhar a conscientização ambiental. “O fato de uma garrafa d’água ser valorizada em um leilão global é a mais pura demonstração do valor sustentável do nosso planeta, que tanto defendemos”, dizem, em comunicado.