Uma noite dramática entre dois estádios do Catar
Um retrato da luta simultânea de Espanha, Japão, Costa Rica e Alemanha por um lugar ao sol. Foi de tirar o fôlego
DOHA E AL KHOR – Foi uma noite dramática no Catar – um balé de sustos, de medo, de alívio e consternação, como se os gritos da torcida ecoassem do estádio Khalifa International, em Doha, ao Al Bayt, em Al Khor, a uma hora de distância de carro. Na metade do segundo tempo, com a vitória do Japão contra a Espanha, por 2 a 1, no Khalifa, e a virada da Costa Rica contra a Alemanha, por igual placar, no Al Bayt, desenhava-se o inesperado: alemães e espanhóis eliminados da Copa do Mundo. Durante três infinitos minutos, dos 25 aos 28, era esse o desenho impossível. Os telões de ambos os estádios indicavam a classificação do Grupo E. Os jornalistas, nas bancadas de imprensa, punham os televisores na partida paralela. Torcedores apareciam colados a seus smartphones. Havia desespero da Alemanha e da Espanha. Ah, aqueles 180 segundos inimagináveis.
Mas então veio o Sobrenatural de Almeida, o de sempre, a tirar da cartola um gol alemão: o empate punha a Espanha de volta ao jogo da Copa, em segundo lugar, atrás do Japão. Empate insuficiente, contudo, para fazer passar a Alemanha.
Faltando seis minutos para o fim da partida, o grito de gol no Al Bayt: Alemanha 3 x 2 Costa Rica. A essa altura, no banco de reserva alemão, a comissão técnica já se debruçava em celulares para acompanhar a partida do Khalifa. E nada – com a vitória do Japão, os alemães voltariam para casa. Era preciso que os espanhóis empatassem, ou então que a Alemanha aplicasse uma sonora goleada nos japoneses, a ponto de superar a diferença de seis gols de saldo (lembremos que, na estreia, a Espanha fez 7 a 0 nos costarriquenhos). A três minutos do apito final, gol: o quarto da Alemanha. Suspense no estádio: a bandeirinha brasileira Neuza Back assinalava impedimento, depois revisto pelo VAR. 4 a 2!
Não bastaria.
No Khalifa, o banho-maria. Um empate da Espanha salvaria a Alemanha. Não aconteceu, graças a uma bela defesa do goleiro Suichi Gonda. Os espanhóis, derrotados, saíram sorrindo, embora corressem risco sério, caso a Costa Rica vencesse. Agora jogam as oitavas contra o Marrocos, supostamente mais fraco, e fogem do lado brasileiro da tabela. E, na história das Copas, permanecerá a indagação, ainda que nada nunca possa ser provado e que as chances de gol no final desmintam: a Espanha fez corpo mole para enfrentar adversário mais frágil nas oitavas? E será que não buscou o empate com tanta força para eliminar a Alemanha?
No Khalifa, repórteres espanhóis seguiam, assustados, o que se desenrolava do outro lado de Doha, na região de Al Khor. No celular, um jornalista ibérico gritou como louco quando a Alemanha empatou, levando a boa nova aos colegas antes mesmo que o tento aparecesse nas telas do estádio. Ficaria nervoso quando se desenhou a goleada homérica que não veio, e poria a Espanha de joelhos.
Apito final no Khalifa. Vitória do Japão, 2 a 1. No Al Bayt uma sonora vaia. Festa da torcida da Costa Rica, derrotada em campo, mas vingada: Alemanha eliminada da Copa do Mundo.
Foi de tirar o fôlego. A história absolverá os espanhóis, ou não.
O grupo E ficou assim: Japão em primeiro, depois de vencer alemães e a Fúria. A Espanha ficou em segundo. Alemanha e Costa Rica voltam para casa.
O Japão enfrenta a Croácia nas oitavas. A Espanha briga com Marrocos, em uma partida para fazer tremer o estreito de Gibraltar.