De Sochi – “Não acredite na imprensa inglesa”. Ouvi essa mesma frase nas três cidades russas que visitei. Em Sochi, ela foi dita em defesa dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2014, o mais caro da história – foram cerca de 50 bilhões de dólares (163 bi de reais) investidos, em meio a diversas denúncias de corrupção. Segundo moradores locais, apesar de a região litorânea ao sul da Rússia estar praticamente vazia no rigoroso inverno, a Olimpíada trouxe inúmeras melhorias para a cidade banhada pelo Mar Negro, onde a seleção brasileira ficará hospedada durante a Copa do Mundo.
Na última quinta-feira, os termômetros marcavam “agradáveis” 3 graus, mas a chuva e o vento tornavam o ambiente congelante até mesmo para os russos mais acostumados. Chegamos ao Parque Olímpico de 2014, na região de Adler, por meio de linhas de ônibus construídas especialmente para os Jogos. A visita teria sido bem mais inóspita não fosse por uma surpresa: a presença de um tour pelo local feito de dentro de um triciclo motorizado – o popular tuk-tuk asiático.
“Claro que a Olimpíada foi boa, antes não tínhamos nada aqui”, conta Aleksandr Skanov, o motorista e guia turístico, que cobra 500 rublos (cerca de 27 reais) pelo passeio. Ele não fala nenhuma língua além do russo (fui salvo pela tradutora), mas se esforçou bastante para explicar, com orgulho, as transformações no local.
Sochi é uma cidade repleta de resorts bastante apreciada pelos turistas especialmente nos meses de calor. Era nessa região de clima subtropical que Josef Stalin passava o verão, tratando sua artrite. A zona dos resorts mais luxuosos, como o que a seleção ficará hospedada, é cerca de meia hora distante da região de Adler, onde está o Parque Olímpico. Apesar de todas as denúncias de corrupção, a população local prefere valorizar as melhorias na infraestrutura.
Éramos os únicos visitante do Parque naquela manhã, mas o complexo olímpico não tinha aspecto de abandono. As instalações estão conservadas, assim como o parque de diversões, chamado pelos locais de “Disneylândia Russa” – o motorista disse que a montanha-russa (que por aqui, ironicamente, é chamado de “americana”) é a mais rápida do mundo, uma informação não encontrada na imprensa inglesa e em nenhuma outra. Já o seu tuk-tuk sofria para subir pelas vias, bem ao lado do Autódromo de Sochi, que desde 2014 recebe o GP da Rússia de Fórmula 1.
Mesmo do lado de fora, as principais arenas, como a de hóquei e a de patinação no gelo, impressionam por sua imponência, assim como o Estádio Olímpico Fisht, que recebeu jogos da Copa das Confederações e também sediará a Copa do Mundo de 2018. O motorista diz que é normal que as atividades diminuam no inverno, mas garante que ao longo dos últimos quatro anos o fluxo de eventos na cidade só cresceu.
O estádio de curling, por exemplo, virou uma casa de shows e lutas de boxe e o de patinação de velocidade se tornou uma academia de tênis, esporte bastante apreciado em Sochi. Foi lá onde Maria Sharapova passou toda sua infância antes de se mudar para os Estados Unidos e onde nasceu o tenista ex-número 1 do mundo Yevgeny Kafelnikov. Descemos do carro para algumas rápidas selfies, pois o frio estava insuportável.
Perto do Parque Olímpico, havia poucos restaurantes abertos e os hotéis estavam vazios. O motorista, então, nos sugeriu uma das “atrações turísticas” abertas nesta época do ano: um minimuseu da União Soviética, com quinquilharias originais dos tempos da Guerra Fria, outro passeio que se mostrou bastante interessante – e do qual trataremos em um novo post.