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Um ato corajoso e importante da CBF

O apoio institucional da entidade à revelação de que Igor Benevenuto, árbitro da elite do futebol, é gay favorece um ambiente de respeito e tolerância

Por Bruno Maia
8 jul 2022, 16h31

A decisão de Igor Benevenuto, primeiro árbitro FIFA em atividade, de se revelar publicamente gay, durante o terceiro episódio do podcast “Nos Armários dos Vestiários”, é um marco mundial na história do maior esporte do planeta. O apoio institucional da CBF, na figura do Presidente da Comissão de Arbitragem, Wilson Luiz Seneme, redimensiona esse acontecimento. Quem ouve o episódio “O Sindicato”, sobre a história da homofobia na arbitragem ao longo de décadas no futebol brasileiro, pode entender que a suposta “isenção” das entidades que não se pronunciavam publicamente sobre questões culturais como esta, na prática geram uma opressão tremenda ao longo da cadeia. O que pode mudar a situação da homofobia e das outras diversas práticas de preconceito, violência e discriminação é o posicionamento firme das instituições.

Benevenuto nos deu uma corajosa entrevista em off, como dizemos no jargão da profissão, quando queremos nos referir ao pedido de não ser identificado de uma determinada fonte. Já seria um gesto importante e corajoso, que ganhou ainda mais peso quando ele mudou de ideia e decidiu revelar-se e protagonizar o debate público que sua atitude causaria. Quem ouvir o episódio vai saber como essa mudança se deu, mas ela está baseada fundamentalmente em ter descoberto que seria apoiado pelo presidente da Comissão Nacional de Arbitragem, entidade a qual está submetido. Ele não se escondia por vergonha, era a percepção de que teria sua atividade profissional prejudicada que lhe condenava a viver sob a sombra de uma invisibilidade que a omissão das entidades insiste em criar.

Há gays no futebol como há em todas as atividades humanas, simplesmente porque essa orientação sexual existe na natureza dos seres. O gesto de Seneme pode parecer trivial, mas não é. É revolucionário e convida todas as instituições do esporte, inclusive a FIFA, à qual Benevenuto também está filiado, a serem claros. Fugir do tema ou tratá-lo com suposta neutralidade é tentar disfarçar a opressão cometida. Atitude progressista análoga vem tendo a NBA, há anos, no seu posicionamento aberto a respeito da luta contra o racismo. A CBF dá um passo importante e corajoso com esta atitude, que precisa ser devidamente sinalizada e celebrada, até como forma de encorajá-la a não parar por aqui e também de inspirar outras entidades a fazerem o mesmo.

Igor Benevenuto é o segundo personagem a revelar sua orientação sexual não heteronormativa ao longo deste podcast. Primeiro foi o ex-jogador Richarlysson, que se tornou o primeiro atleta a ter jogado pela Seleção Brasileira a assumir a bissexualidade, no episódio “Don’t ask, Don’t tell”. Escrevo este artigo enquanto dirijo a referida série e, naturalmente, sob o impacto das repercussões que chegam até mim e toda a equipe de produção. O buraco da homofobia no futebol é muito fundo e há muita gente nele. Pessoas afogadas numa areia movediça, ansiando pela liberdade de serem, apenas, quem são.

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O trabalho de investigação precisa ser conduzido com seriedade. É preciso respeitar as privacidades e os riscos a que se sentem expostos os personagens chaves destas histórias. Mais do que um trabalho de jornalismo é um trabalho de Comunicação, de conversa, de diálogos e de criação de pontes. O que se descobre investigando nem sempre deve ser revelado, especialmente quando fere à privacidade de quem não quer ter sua intimidade revelada só para saciar a curiosidade dos outros, se esta intimidade não afeta em nada o interesse público. Ao longo desta trilha, encontramos as histórias e as dores em número muito maior do que podemos revelar.

A repercussão e amplificação de todos os que se solidarizam com a luta anti-homofóbica é fundamental. Vivemos um tempo onde a ignorância e a intolerância ao diferente são tratadas como “bem” e “mal” de maneira institucionalizada, levando a um esgarçamento do tecido social. Neste contexto é ainda mais urgente e louvável a participação das instituições, empresas privadas, agentes da sociedade civil, na construção de um ambiente de respeito e tolerância. Por isso, tão grande quanto a atitude de Igor Benevenuto é a de Wilson Seneme e da CBF, que rompem com um comportamento histórico institucional e apontam que, como tem dito Gilberto Gil em entrevistas recentes, “a seta do tempo só anda pra frente”.

Bruno Maia é sócio da produtora Feel The Match e diretor geral da série “Nos Armários dos Vestiários”

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