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Último do terrão, Julio Cesar supera desconfianças e completa 100 jogos

Por Da Redação
11 out 2011, 07h39

A escalação do Corinthians começou pela primeira vez por Julio Cesar em 22 de maio de 2005. Recém promovido da base, depois de ter sido bicampeão da Copa São Paulo de Futebol Júnior, o goleiro recebeu a primeira chance, em função do afastamento de Fábio Costa, para vencer o Figueirense. Novas chances custaram a aparecer, uma vez que o clube fez uma série de apostas na posição, e ele só conseguiu se firmar como camisa 1 há pouco tempo, tendo suportado desconfianças e sobrevivido como último titular formado no clube. ‘Já engoli muita coisa a seco e tive que ficar calado’, conta o jogador de 26 anos, às vésperas da centésima partida, nesta quarta-feira, diante do Botafogo.

‘Tenho lembranças do Julio já da minha primeira passagem (de 2004 a 2005) por aqui’, comenta o técnico Tite. ‘O então menino, que cresceu, foi construindo e alcançando seu espaço dentro do clube, pelas virtudes técnicas e pelo lado pessoal. Ele é um cara muito centrado. Os trabalhos dele são sempre muito focados, intensos. Por isso é que ele teve essa evolução técnica. Ele só está colhendo os frutos do trabalho, do caráter, da persistência que ele mostra no dia a dia’.

Hoje elogiado por treinador, preparador de goleiros, restante do grupo e torcedores, o paulistano – e corintiano de pequeno – Julio Cesar fala em entrevista à GE.Net sobre momentos importantes da carreira: a apreensão antes da estreia ao lado do argentino Tevez e companhia, a escassez de novos talentos no terrão (apelido atribuído inicialmente à peneira corintiana, por conta da existência de um campo de terra no Parque São Jorge, e depois apropriado para a base em geral), o relacionamento com o antecessor Felipe, o jogo mais marcante até aqui (clássico com o Palmeiras), o concorrente Renan, os Ronaldos goleiro e atacante, além de outros assuntos.CONFIRA A ENTREVISTA COM O GOLEIRO DO CORINTHIANS:

GE.Net – Você se lembra do seu primeiro jogo?

Julio Cesar – Lembro. Dia 22 de maio de 2005. Ganhamos de 2 a 1 do Figueirense. Saímos perdendo, gol do Michel Bastos, e depois viramos, com gol do Roger e outro do Tevez.

Como foi?

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Foi muito bom, uma emoção muito grande. Eu já tinha jogado com a torcida do Corinthians no estádio em Taça São Paulo, mas pelo profissional aquela foi a primeira vez. Os minutos que antecederam o jogo, os dias antes, quando soube que ia jogar, foram de muita ansiedade, de muita expectativa. Deu aquele friozinho na barriga, que é gostoso. Você entra em campo um pouco nervoso no jogo, mas depois foi tudo tranquilo. Graças a Deus, conseguimos ganhar.

Você citou a Copinha. Já tinha pressão da torcida naquela época?

Sim, pressão no Corinthians sempre existe. Principalmente na de 2005, porque a gente já tinha sido campeão em 2004. A torcida estava bem confiante e praticamente lotou todos os nossos jogos. É legal, você tem uma pressão, sente como é, tem o primeiro contato. Mas jogar na Taça São Paulo e jogar depois no profissional é totalmente diferente. A emoção é outra.

Esse campo aqui (no CT Joaquim Grava) está passando por reforma, está sem grama e com bastante terra, lembra o terrão. Você é o único formado no terrão a ser titular hoje. Por que você acha que o clube parou de revelar tantos talentos como antes?

Acho que a categoria de base do Corinthians tem jogadores tão bons quanto antes. Mas pela fase que o profissional passa, de estar bem estruturado, já ter uma base consolidada, ter jogadores bons, experientes, isso diminui os espaços para a galera subir, para que venham jogadores da base. Não que a base perdeu a qualidade, mas acho que, com a estrutura que o profissional tem hoje, qualidade, organização, isso dificulta um pouco mais para os jogadores subirem. Lembro que na minha época subiu um time inteiro praticamente. Hoje em dia não. Nosso elenco tem uma base formada e que não permite com que subam tantos jogadores.

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Mas o Andrés (Sanchez, presidente do Corinthians) reconheceu que deixou a desejar com a base. Com o projeto de trazer a base aqui para o CT (estão sendo construídos campos ao lado da estrutura do profissional), a tendência é subir mais garotos?

Sim. Ou não subir tantos, mas com qualidade para ser titular. Vai ser muito importante a categoria de base estar aqui próxima do profissional, lado a lado. Quando precisar, já estará perto. Até para os garotos sentirem como é o clima também, porque isso é importante. Espero que, com a construção do CT para a base, o Corinthians volte a ser uma potência para revelar jogadores.

Recentemente você causou certa desconfiança de parte da torcida (falhou na final do Campeonato Paulista, contra o Santos), justo na hora em que estava chegando o Renan, um goleiro novo, ao elenco. Agora está bem de novo, com boa sequência de jogos. O que você fez para superar isso?

A principal característica de um goleiro para superar tudo isso é ter a cabeça boa, maturidade na hora em que vem a desconfiança, a cobrança, críticas. Normalmente, isso vai vir, na vida de qualquer um. Então nesse momento eu tive que ter muita tranquilidade, a cabeça fria e trabalhar bastante. Meu treinador de goleiros ajudou muito, o Tite ajudou muito. A família, nessas horas, é importante, porque foi um momento muito difícil mesmo. Eu ligava a televisão, via na Internet, jornal, só se falava que o Julio ia sair, que o Julio não ia jogar, que não sei o quê. Mas, graças a Deus, com muito trabalho, com muita persistência e muita fé, eu consegui dar a volta por cima.

O Renan também foi titular e saiu do time. Como ele está?

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O Renan está bem, está se recuperando emocionalmente também, porque, queira ou não, foi difícil para ele. Ele está treinando bastante, querendo o espaço dele, trabalhando com muita honestidade também. É um garoto, pô, sensacional, muito gente boa. A gente gosta bastante dele. Tenho certeza que, com trabalho, ele vai retomar confiança nele mesmo. É só dar tempo ao tempo, mas ele está se saindo bem.

Quando você era reserva do Felipe, seu antecessor, como era seu relacionamento com ele? Há quem diga ele era um cara difícil de se relacionar.

Sinceramente, joguei com ele quase quatro anos e nunca tive problema nenhum. Ele é uma pessoa sensacional, tenho amizade com ele até hoje. A gente sempre conversa, troca camisa quando se enfrenta, se fala. Ele é um grande goleiro. O meu relacionamento com ele, aqui dentro do trabalho, era sensacional. Nunca tivemos nenhum atrito. É uma pessoa que admiro bastante.

MAURI LIMA, PREPARADOR DE GOLEIROS

‘O Julio Cesar é um goleiro muito técnico, um excelente goleiro. Sempre existe desconfiança, essa cobrança, mas procuramos trabalhar para superar isso, tanto na parte técnica quanto na parte psicológica. Ele é uma pessoa da qual eu me orgulho muito, pelo profissional e a pessoa que é. Tem um coração do tamanho do mundo. A cada dia, a gente procura aprimorar algumas coisas, saída de gol, reposição de bola… Como a estatura dele é considerada mediana (tem 1,85m), a gente trabalha também para que ele possa superar os 2cm ou 3cm que se cobram nesse sentido. Goleiro sabe quando erra, não precisa nem ser falha expressiva. Mesmo que a torcida tenha achado que ele não falhou, essa cobrança parte de nós mesmos. Este foi o primeiro ano em que o Julio teve chance de ter uma sequência no time. É o tempo que vai dizer, que vai fazer com que amadureça. Mas ele é tranquilo, consciente, escuta, obedece. É um profissional com característica de suportar a pressão, visto o que passou no Campeonato Paulista e depois ele se superou no Brasileiro. Vivo mais com os goleiros do que com minha família, então eu os tenho como filhos. Sempre procuro orientar e passar ao Julio ainda que meça palavras em entrevistas, por exemplo.’

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E como é seu relacionamento com o Mauri (Costa Lima, treinador de goleiros) e o Tite?

São dois praticamente pais, são pessoas que me ajudam bastante. Estou com o Mauri há quatro anos, vivemos diversas situações. O Tite já me ajudou muito, já me aconselhou muito, até em problemas familiares, em todas as situações. São duas pessoas pelas quais eu tenho carinho enorme aqui dentro do clube.

Qual foi seu jogo mais marcante?

Teve muito jogo que marcou bastante. No ano passado, o jogo da Libertadores, em que nós perdemos para o Flamengo, com Maracanã lotado, foi um. Mas o que mais me marcou foi o jogo contra o Palmeiras, depois de a gente ter perdido para o Tolima. Foi um dos jogos mais difíceis que já disputei pelo Corinthians. Tinha pressão da torcida, porque aquela semana foi muito difícil. Ter conseguido o resultado positivo e sair de lá para começar a estabilizar o time novamente foi muito importante. Com certeza, foi o jogo mais marcante.

Um a zero, gol do Alessandro, no Paulistão. Você catou bastante naquele dia…

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Foi. Foi um jogo bom para mim, um jogo bom para o elenco, para o Tite (cujo cargo estava ameaçado em função da eliminação precoce para o Tolima, na repescagem da Libertadores, antes da fase de grupos), para todo o mundo. Aquele jogo foi marcante para o grupo todo.

O Ronaldo goleiro é uma inspiração para você? E o Ronaldo atacante te ajudou tecnicamente de alguma forma?

O goleiro é certamente um exemplo a ser seguido, uma meta a ser batida, porque não é qualquer um que faz 601 jogos pelo Corinthians. Vai demorar bastante para que alguém faça de novo. É um exemplo de amor à camisa, de respeito ao clube, identidade com a torcida. Pode ter certeza de que ele é um espelho, um ícone. E o Ronaldo Fenômeno, sem palavras. Quando ele estava aqui me ajudou muito em situações de cara a cara com atacante, às vezes em pênalti, com orientações, trocando experiências. Ele é uma pessoa que eu admiro e até hoje, quando encontro, a gente conversa bastante. É um cara bem animado e sempre ajudou bastante.

Você está indo para o centésimo jogo. Pretende passar o Ronaldo goleiro?

Tem muito chão a ser percorrido. Muito chão mesmo. Se eu pudesse bater essa marca, seria um grande prazer. Mas eu sei que ainda falta muita coisa. A gente faz, em média, 60 jogos ao ano, 70 jogos ao ano. São pelo menos mais sete anos como titular. Então ainda é uma longa estrada. Então vamos completar esses 100, partir para os 200. A cada 100, a gente põe meta nova.

Quando você subiu para o profissional, passaram pelo Corinthians vários goleiros. Passaram Bobadilla, Johnny Herrera, Marcelo, Jean, Bruno… Por que você ficou?

É uma boa pergunta, não sei o porquê. Mas sempre fui um cara muito dedicado, determinado e soube aonde queria chegar. Mesmo estando de terceiro ou quarto goleiro, eu sempre soube aonde eu queria chegar e sempre trabalhei para isso. Nunca dei trabalho a ninguém, só fiz meu trabalho. Já engoli muita coisa a seco, já ouvi muita coisa e tive que ficar calado. Já passei por situações que não são fáceis. O principal de tudo é ter persistência e saber a sua qualidade. Trabalhar quieto, sem fazer mal a ninguém, me ajudou muito nisso.

Que tipo de coisas você ouviu?

Não, às vezes você ouve…

De dentro do clube?

De pessoas que não acreditam em você, acham que você não vai chegar, acham que você está aí apenas para completar grupo. Coisas que te deixam chateado.

Você sofreu poucas lesões na carreira. A luxação no dedo, no jogo contra o Botafogo, em São Januário, pelo Brasileirão, foi a que te deixou mais chateado?

Foi. Para falar a verdade, foi a única lesão que eu tive, a única vez em que eu tive que parar mesmo para fazer tratamento. Agora estou com uma dor no cotovelo, mas já faz um tempo que estou com essa dor. Eu treino e trato, então eu vou levando, vai em cima da dor mesmo. Mas aquela lá foi uma que tive que parar mesmo. Fiquei 20 dias sem poder fazer o que eu mais gosto, que é jogar, treinar, ter contato com a bola. Aquilo me deixou bastante chateado, e foi um momento diferente na minha carreira, mas que serviu como aprendizado.

Algum dia você pensou em jogar fora, na Europa?

Não. Na Europa, nunca. É claro que a gente nunca sabe o dia de amanhã, mas o meu pensamento, com certeza, é Corinthians, Corinthians e Corinthians.

Saindo um pouco do futebol, como é tua rotina diária? O que você fez hoje (a entrevista foi concedida na quinta-feira à noite), por exemplo?

Hoje de manhã dormi até um pouquinho mais tarde. Minha esposa foi jogar tênis, fui lá assistir. Ela faz aula de tênis. Aí depois fui almoçar fora com ela, fui para casa, assisti à TV um pouquinho e vim para o CT.

E na concentração, o que você faz? Pelo Twitter você fala às vezes de NFL.

Sou viciado em futebol americano, gosto muito. NBA também, acompanho NBB bastante. Gosto muito de videogame, levo para toda concentração. A gente joga bastante Winning Eleven (game de futebol), muito mesmo. Em toda concentração rolam algumas partidas. Como divido quarto com o Danilo (Fernandes, goleiro reserva), a gente sempre faz uns confrontos. O Castán (Leandro Castán, zagueiro) vai muito lá também, o Wallace (zagueiro)… O pessoal vai lá e sempre tem muita gozação entre os jogadores.

Por curiosidade, que som você costuma ouvir?

Só ouço música gospel.

Tem alguma que você lembra?

Tem. ‘Já posso suportar’, do Pregador Luo. É um rap.

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