Não há em toda a história do futebol mundial um atleta que tenha vencido tantos e tão relevantes títulos quanto Pelé. Pela seleção brasileira, conquistou três Copas do Mundo, fato até hoje não igualado por nenhum outro jogador. Com a camisa do Santos, foram dois Mundiais, duas Libertadores, seis Brasileiros e dez Paulistas. Ganhou ainda, pelo New York Cosmos, o título norte-americano de 1977, sua última glória nos gramados.
A lista de seus recordes individuais e troféus pessoais, porém, é ainda mais impressionante que o elenco de triunfos de suas equipes. O homem que transformou a camisa 10 em um mito alcançou façanhas que parecem cada vez mais inatingíveis com o passar do tempo. O Rei do Futebol foi o mais jovem campeão mundial, com 17 anos – sendo protagonista da conquista na Suécia, em 1958. Sagrou-se onze vezes artilheiro do Campeonato Paulista.
É o maior artilheiro da seleção brasileira, com 95 gols, de acordo com as contas da CBF, que levam em conta amistosos contra clubes e outros combinados. Em jogos oficiais, tem 77, empatado no topo com Neymar. E, recorde dos recordes, é o maior artilheiro da história do futebol, com 1 283 tentos marcados.
Ainda nos chamados “jogos oficiais”, Cristiano Ronaldo já superou os 767 gols de Pelé e Lionel Messi deve seguir o mesmo caminho, mas não se pôde reescrever o passado com o contexto do presente. Da lista usurpada do brasileiro há centenas de gols históricos, como por exemplo aqueles das excursões internacionais do Santos, que por diversas vezes abriu mão até de disputar a Libertadores para desafiar potências europeias como o Real Madrid de Di Stéfano. O milésimo gol, marcado em 19 de novembro de 1969 na vitória diante do Vasco da Gama, no Maracanã, parou o Brasil, ganhando mais importância até do que o segundo desembarque do homem na Lua, realizado naquele mesmo dia. Pelé nos fazia chegar à lua.
A aposentadoria do futebol, porém, não diminuiria a quantidade de galardões recebidos pelo astro. Prêmios e honrarias póstumas vieram aos borbotões, até o fim de sua vida – alguns deles especialíssimos, únicos. Em 1980, o jornal francês L’Équipe promoveu uma enquete mundial entre jornalistas para eleger o Atleta do Século. Lendas como Muhammad Ali e Emil Zatopek ficaram para trás. Jesse Owens, o homem que calou Adolf Hitler nos Jogos Olímpicos de 1936, foi o segundo colocado, com 169 votos. Pelé venceu a escolha com 178. O segundo futebolista mais lembrado foi o argentino Alfredo Di Stefano, com escassos 12 votos.
Mais tarde, outro argentino passaria quase toda sua vida tentando desafiar os títulos, os números e a lógica para mostrar – inutilmente – que foi melhor do que Pelé. Diego Maradona quase sentiu o gostinho de superar o Rei no ano 2000, quando a Fifa abriu, na internet, uma votação para eleger o Melhor Jogador do Século.
Seus devotados fãs aproveitaram a chance de um sufrágio sem metodologia ou controle e entraram em massa para clicar no nome de Maradona, que venceu a eleição com mais de 50% dos votos. Ao perceber o tamanho do equívoco, a Fifa resolveu entregar ao argentino o título café-com-leite de “Melhor Jogador do Século da Internet” – e conceder um novo prêmio de “Melhor Jogador do Século”, escolhido por jornalistas, técnicos e outras autoridades do mundo do futebol. Esta eleição foi vencida pelo Rei do Futebol, seguido de Johan Cruyff, Franz Beckenbauer, Di Stefano e, finalmente, na quinta posição, Maradona. O troféu entregue a Pelé – ao lado de um emburrado e diminuído Diego – em cerimônia no Estádio Azteca está hoje ao lado de inúmeros outros no museu que leva seu nome, em Santos.