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O romantismo voltou ao figurino – e logo chega ao Brasil

A elegância representada pela duquesa Marie-Caroline de Bourboun-Sicile começa a ser copiada e distribuída

Por Da Redação Atualizado em 4 jun 2024, 12h20 - Publicado em 3 set 2022, 07h00
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  • O texto a seguir faz parte da edição especial de VEJA em torno dos 200 anos da independência. A ideia é tratar as notícias como seriam publicadas naquela semana de 7 de setembro de 1822 – tudo o que viria a ocorrer depois, portanto, ainda não aconteceu. É um passeio histórico ao cotidiano de dois séculos atrás.

    Paris tem artes (leia, na pág. 60, reportagem a respeito de um novo pintor, Delacroix), Paris tem ideias inovadoras (leia, na pág. 63, em torno do diorama de Daguerre), Paris, alguém de verve irônica pode até vir a dizer, é uma festa. Paris é também a capital mundial da moda. É de se imaginar, portanto, que no frisson da cidade-luz a disputa por destaque na categoria elegância seja difícil. Mas há uma vencedora: nas últimas temporadas de bailes e banquetes, Marie-Caroline de Bourbon-Sicile, a duquesa de Berry, magnetizou os olhares sem esforço. Amante das artes e da literatura, ela mescla seu eclético conhecimento para inventar, com a ajuda de seus costureiros, os modelos que serão depois imitados mundo afora. A duquesa de Berry é a mulher que todas desejam ser. É a dona de Paris.

    Sua influência acaba de ser imortalizada em um estupendo retrato feito por ninguém menos do que François Gérard, respeitado por seu talento na execução de perfis femininos. Na obra, ela aparece com seus filhos, o príncipe Henri, conde de Chambord, e a pequena Louise Marie Thérèse d’Artois. O óleo sobre tela agora enfeita um dos corredores do Palácio de Versalhes. O quadro traz a duquesa em toda a sua beleza e sintonia com a moda. O vistoso vestido azul que exibe, enfeitado com detalhes dourados e pérolas, aponta o caminho da tendência para os próximos anos. A vestimenta flerta com a volta do romantismo e de alguma delicadeza, se é que isso é possível, do tempo dos cavaleiros medievais. Voltam, então, as mangas bufantes, os plissados e os laços. Além disso, como mostra a duquesa, as saias ficam mais curtas, deixando à vista botinhas com saltos altos ou os sapatos adornados com fitas que podem ser enroladas ao redor da perna. A duquesa também sinaliza o que fazer com os cabelos: caprichar nos cachos, que trazem doçura à feição, e enfeites, que podem ir de penas a fitas.

    Ainda demora alguns meses, é natural, para o estilo chegar ao Brasil, já que as informações desembarcam no Rio de Janeiro com os viajantes e raras publicações vindos das cortes. Mas cabe desde já um bom conselho: atenção ao que desponta nas vitrines da Rua do Ouvidor, palco de negócios dos modistas mais relevantes do país agora independente de Portugal. Com o perdão da troça, do doudo gracejo, ouçam o Ouvidor. No logradouro, o senhor ou a senhora não devem se surpreender se, em um passeio qualquer, baterem de frente com um integrante da corte procurando a vestimenta a ser usada no próximo baile imperial. A maioria dos modelos não é confortável para as temperaturas aviltantemente altas registradas no Brasil. Mas não importa. Há leques para as senhoras e, para os cavalheiros, chapéus e a sombra das árvores. A duquesa de Berry aprovaria o uso desses estratagemas em nome da elegância.

    Publicado em VEJA de 13 de setembro de 2022, edição especial nº 2805

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