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Rubens Ewald Filho sobre Oscar: ‘Não sou sexista ou transfóbico’

Apresentador fala a VEJA sobre os 35 anos como comentarista da premiação e as críticas na internet após dizer que mulher trans era um rapaz

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 7 mar 2018, 11h25 - Publicado em 7 mar 2018, 11h14

Quem assiste ao Oscar no Brasil, inevitavelmente, já ouviu a voz do crítico de cinema Rubens Ewald Filho, 73 anos, que assumiu o cargo de comentarista da premiação na Globo há 35 anos antes de seguir para o SBT e chegar ao canal pago TNT. Na última cerimônia, que foi ao ar no domingo, dia 4 de março, Rubens caiu na malha fina da internet ao fazer um comentário tido como transfóbico. Quando a atriz transgênero Daniela Vega, do chileno Uma Mulher Fantástica, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro, subiu ao palco, o crítico soltou: “Essa moça, na verdade, é um rapaz”.

“O que aconteceu com relação à atriz Daniela Vega, foi, no fundo, uma confusão minha de termos técnicos de expressão, mas nunca, em hipótese alguma, uma atitude sexista e transfóbica”, afirma o crítico ao site de VEJA. “Que tudo isso que aconteceu sirva para se falar ainda mais sobre o assunto, para se promover ainda mais esta causa. Que pessoas leigas aprendam os termos técnicos, e me coloco neste caso, aprimorem seu vocabulário nesse sentido.”

Confira abaixo a conversa com o crítico:

 

O Oscar e outras premiações assumiram um tom político que promoveu críticas e elogios. Como o senhor, que comenta há 35 anos a cerimônia, vê este momento? O Oscar ao longo dos anos perdeu audiência e atualmente vivemos em todo o mundo um momento difícil, mas nos Estados Unidos está ainda pior. O público em geral está adormecido. Por exemplo: não pense que as pessoas, com exceção dos negros, se importam que o filme Corra!, que é um divisor de águas e um corajoso desafio, fosse premiado como foi. Digo mais, as pessoas não estão interessadas nas denúncias que as atrizes fizeram, elas preferem o escândalo, a piada mais grossa e os corpos mais desnudos. Até mesmo as canções premiadas, quase todas eram de protesto, porém mais leves. Ou seja, a Academia do Oscar faz um enorme esforço em mudar a ordem errada das coisas, conter os abusos, dar espaço e voz para as mulheres e, como retorno, ganham apenas números cada vez menores de audiência, que para eles é importante, já que é graças a isso que o Oscar e toda a Academia têm dinheiro para levar adiante projetos, inclusive o museu que está em construção. Ou seja, nunca foram tão corajosos e tão mal compreendidos. No entanto, no Brasil, apesar da queda, nossa transmissão no canal TNT fica em primeiro lugar em audiência na TV por assinatura.

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Seu comentário sobre a atriz Daniela Vega repercutiu de forma negativa. O que tem a dizer sobre? Tenho 50 anos de carreira e 35 anos como comentarista do Oscar. Nunca fui reacionário, sexista, racista. Ao contrário, sempre lutei a favor daquilo que é certo, do indivíduo, das minorias e da liberdade de expressão. O que aconteceu com relação à atriz Daniela Vega, foi, no fundo, uma confusão minha de termos técnicos de expressão, mas nunca, em hipótese alguma, uma atitude sexista e transfóbica. Que tudo isso que aconteceu sirva para se falar ainda mais sobre o assunto, para se promover ainda mais esta causa. Que pessoas leigas aprendam os termos técnicos, e me coloco neste caso, aprimorem seu vocabulário nesse sentindo.

O que achou de Uma Mulher Fantástica? Era seu favorito da categoria? Eu preferia O Insulto que, na minha opinião, é mais político e sólido. Mas sim, eu gostei do filme. Estou muito feliz que uma transexual tenha protagonizado e estrelado um filme que ganhou o Oscar. Em 90 anos de premiação isso nunca aconteceu. É um momento de glória, a primeira vez que a barreira foi rompida, a primeira de muitas que virão, para mostrar seus enormes talentos e força de interpretação, direção e qualquer outra forma de atuação tanto no cinema quanto na sociedade.

“Que tudo isso que aconteceu sirva para se falar ainda mais sobre o assunto, para se promover ainda mais esta causa. Que pessoas leigas aprendam os termos técnicos, e me coloco neste caso, aprimorem seu vocabulário nesse sentindo.”

Rubens Ewald Filho
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Quais as dificuldades de comentar uma cerimônia do Oscar ao vivo que as pessoas do outro lado da TV não imaginam?  Muitas! A equipe, felizmente, é ótima, o que ajuda muito, primeiro porque o show começa tarde da noite e a gente passa vários dias estudando o texto, que chega diretamente da Academia, sem muitas informações. Por exemplo: não vem no texto nenhum momento de humor, nem os nomes dos presentes, pois a Academia quer nos surpreender com convidados que são anunciados minutos antes. Antes da cerimônia temos o tapete vermelho. Todo esse esforço que fazemos é de mais ou menos seis horas ininterruptas. Se quiser ir ao banheiro, precisa ir correndo. Não dá para comer nada, nem beliscar algo (risos). É um grand tour que exige muito da gente – afinal, qualquer agradecimento ou brincadeira vem de forma imprevista, nós e os colegas tradutores temos que adivinhar na hora o que sucede, tudo com o tempo corrido e contado. Acabamos a cobertura do show por volta de duas horas e tanto, e levantamos no dia seguinte para pegar o avião. É um milagre que as falhas entre nós sejam tão poucas e quando há, compreensíveis. Ou seja, não pensem que tem roteiro pronto para seguirmos fielmente, tudo é uma surpresa para nós. E um risco.

Voltando à primeira questão, como enxerga esse momento em que os filmes se posicionam e são premiados por isso? As mulheres, que foram a vida toda vítimas de abusos e enganos, são as mais posicionadas neste momento. Nem falo só dos estupros, que são uma aberração, mas o caso recente da refilmagem do texto do filme Todo o Dinheiro do Mundo, onde o protagonista masculino Mark Wahlberg ganhou um milhão e meio 1,5 milhão de dólares por alguns dias de filmagem, enquanto a mocinha Michelle Williams ganhou apenas o mínimo salarial. Olha que absurdo. E isso acontece sempre, outro exemplo foi a diretora de Lady Bird, a Greta, que foi apenas a quinta mulher a ser indicada ao Oscar e ainda assim perdeu. Então, as mulheres é que estão fazendo a indústria se posicionar antes tarde do que nunca. E por isso merecem tanto nosso respeito.

Dos filmes desta temporada, qual seu favorito? Fiquei apaixonado por A Forma da Água. Uma poesia de monstro da Amazônia, uma trilha musical brilhante que usa a Carmen Miranda, e o terceiro diretor mexicano quase seguido a ganhar o Oscar (não é à toa que o presidente Donald Trump morreu de dor de cotovelo). Enfim, é brilhante mas houve outros como o filme do Churchill [O Destino de uma Nação] e o Dunkirk que é praticamente um filme irmão dele.

Tem planos de parar de apresentar o Oscar na TV? Adianta ter planos (risos)? Só quero fazer meu trabalho direito e me fazer entendido a todas as pessoas, passar a magia do cinema e do Oscar.

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