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‘Não queremos bater de frente com a novela da Globo’, diz Daniela Beyruti, na estreia da trama do SBT

Por Maria Carolina Maia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 6 abr 2011, 11h56

Garçons vestidos de soldados desfilam bandejas de strogonoff de carne. A atriz Gabriela Alves passa entre os convidados, observando tudo por cima dos ombros. Isadora Ribeiro abraça e beija Raul Gil em frente a uma câmera de TV. Um colunista de jornal termina de comer e deixa discretamente o prato em um canto do hall de entrada do Clube Nacional, no Pacaembu, em São Paulo. É ali, tradicional sede de bailes nos anos 1960, que acontece na noite de terça-feira a festa de lançamento da novela Amor e Revolução, nova aposta da dramaturgia do SBT. A estreia da novela, que se passa no período da ditadura militar, está marcada para as 22h15. É para não enfrentar a novela da Globo, explica Daniela Beyruti. “É muito investimento para isso”, diz, batendo com as costas de uma mão na palma da outra. A novela de Tiago Santiago tem o custo médio de 200.000 reais por capítulo.

Diretora artística e de programação da emissora, e filha “do homem”, Silvio Santos, Daniela é a maior autoridade no local. O pai não comparece porque dorme cedo, às 22h30. “É que ele acorda todo dia às 5h”, explica a filha. Assediada por repórteres e fotógrafos, ela mal tem tempo de tuitar. Posta uma mensagem no início da noite – “Hoje vamos conhecer um pouco mais da nossa história! Amor e Revolução estreia” -, uma segunda minutos antes de a trama ir ao ar e uma terceira e última ao final, comemorando a audiência no Distrito Federal, onde o SBT chegou a ficar a um ponto da liderança.

A prévia da audiência nacional ou da Grande São Paulo, onde cada ponto do Ibope equivale a 58.000 domicílios, ela prefere não dar. Checa as informações no celular, apertando os botões com os dedos de unhas escuras, e diz apenas que ultrapassou o esperado. “Eu esperava 7 pontos no Ibope.” A audiência vai ditar o futuro de Amor e Revolução, novela que o autor, Tiago Santiago, chegou a oferecer à Globo anos atrás. Inicialmente prevista para abranger o período entre o golpe militar e a guerrilha do Araguaia, ela pode chegar à redemocratização do país, se tiver público. Daniela comemora a possibilidade de gravar o folhetim enquanto está no ar, algo quase inovador em se tratando do SBT, emissora que vinha estreando suas novelas já totalmente gravadas. “A gente pode desenvolver a história segundo aquilo que o espectador quer.”

Os atores Claudio Lins e Graziela Schmitt, da novela 'Amor e Revolução', do SBT (620)
Os atores Claudio Lins e Graziela Schmitt, da novela ‘Amor e Revolução’, do SBT (620) (VEJA)
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Nazismo x ditadura – Animada com a estreia, a diretora de programação do SBT diz não temer a reação dos militares – muitos se mostraram incomodados com a novela antes mesmo de sua estreia. “É importante retratar a realidade. Cada país tem as suas forças e as suas fraquezas. Os Estados Unidos tiveram uma guerra civil, a Alemanha teve o nazismo. Nós tivemos a ditadura, não podemos esquecer isso.”

Apartados das questões políticas, repórteres investem sobre a vida pessoal das celebridades – ou sub – presentes à festa. A modelo Isabella Fiorentino, apresentadora do Esquadrão da Moda, aparece para prestigiar o produto da casa e é alvejada por perguntas sobre a gravidez de três meses. Vai ser uma mamãe fashion, quer saber uma repórter. “Não, vou ser eu mesma”, diz, depois de relatar a dureza do início da gestação. “Dá muito sono. Eu fico pensando em mulheres que têm de pegar ônibus, ficar de pé, Deus que ajude.”

Nico Puig e Luciana Vendramini, de 'Amor e Revolução', novela do SBT (620)
Nico Puig e Luciana Vendramini, de ‘Amor e Revolução’, novela do SBT (620) (VEJA)
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Telecurso 2º Grau – Assim como o autor, Tiago Santiago, Daniela Beyruti sustenta que Amor e Revolução irá mostrar “os dois lados da história”. A tentativa de quebrar um possível maniqueísmo na trama se apóia no personagem José Guerra (de um não mais que razoável Claudio Lins). Major da inteligência do Exército neste início de novela, ele é a ovelha branca da família: discorda do pai, o general Lobo Guerra (Reinaldo Gonzaga), e do irmão, também major (Nico Puig, em retorno à TV), ambos alinhados com o golpe militar.

Mas a tentativa de romper com o dualismo folhetinesco tropeça no próprio conteúdo, em sua maior parte tomado por militares maus e comunistas bonzinhos. E no tom didático do texto. Tirados de livros de história, os diálogos são artificiais. E, em algumas vezes, risíveis. Logo na primeira sequência da novela, alguns comunistas acampados no meio do mato aparecem reunidos em torno de uma fogueira. Eles falam, é claro, de revolução. “Bom, gente, o nosso objetivo é criar um novo governo no Brasil, assim como Fidel Castro fez com Cuba, em 1959”, diz uma guerrilheira, vomitando um excesso de informação que empobrece a trama. O pior vem depois: outra comunista da roda pergunta se a camarada acha mesmo que é possível o Brasil “virar um… Cubão”, ao que é corrigida pela informação de que o país seria, na verdade, “uma Cubona”.

Outro diálogo que seria cômico se não fosse trágico se dá algumas cenas adiante, entre os militantes Batistelli (Licurgo Spínola) e Jandira (Lúcia Veríssimo, que volta à TV por uma causa: ela declarou que estava afastada das novelas porque nenhuma tinha tema relevante). Eles são um casal que discute política e a relação. Em determinado momento, ela pergunta a ele: “Você me trouxe aqui para fazer amor ou revolução?”

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Os pontos fortes da novela estão no tema, ainda e sempre quente, e em um claro esforço de arrojo por parte do SBT. Há imagens de alta qualidade, as cenas de tortura parecem realistas (elas irão ao ar nesta quarta-feira), e a trilha sonora, embora não escape dos clichês – nem Alegria, Alegria, música de Caetano Veloso que marcou a série global Anos Rebeldes, foi poupada -, tem boas tentativas, como o uso de uma releitura feita por Pitty da música Cálice, em lugar da original. Agora, é esperar para ver se pega.

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