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IMPERDÍVEL: A lírica poderosa e acessível da Nobel Szymborska

‘[Um Amor Feliz]’ tem edição bilíngue de 85 trabalhos da escritora, escritos entre 1957 e o ano de sua morte, 2012

Por Da redação
Atualizado em 3 set 2016, 07h13 - Publicado em 3 set 2016, 07h13

(Tradução de Regina Przybycien, Companhia das Letras, 328 páginas, 44,90 reais) Segunda coletânea da poeta polonesa Wislawa Szymborska a ser publicada no Brasil, depois de Poemas, em 2011, [Um Amor Feliz] dá mais uma mostra da habilidade da Nobel de Literatura de 1996 de tocar o leitor com sua lírica complexa, conduzida por uma linguagem acessível, que não assusta o leitor. O volume traz uma seleção de 85 poemas escritos entre 1957 e a morte da escritora, em 2012 – a maioria deles, porém, é dos anos iniciais da poeta e de seus anos finais.

‘[Um Amor Feliz]’A edição bilíngue também traz o discurso feito por Wislawa ao aceitar o Nobel, em que ela fala sobre o ofício do poeta. “(…) O poeta, se é um poeta de verdade, deve repetir constantemente para si mesmo: ‘não sei’. Cada poema seu é uma tentativa de resposta, mas, assim que ele coloca o ponto final, já o espreita a dúvida, já começa a se dar conta de que aquela é uma resposta temporária e totalmente insuficiente. E assim tenta mais uma vez, e mais outra e depois os historiadores da literatura juntam com um grande clipe essas sucessivas provas de sua insatisfação consigo mesmo e chamam-nas de sua ‘obra’.”

Wislawa trata de temas corriqueiros como a natureza e o amor, mas também se aventura em assuntos como ciência, astronomia, biologia e matemática, pelos quais ela nutria franco interesse. Além disso, a própria poesia também é tratada em seu trabalho: em um deles, Medo do Palco (abaixo), ela aborda os limites entre a prosa e a poesia – algo que é sempre mencionado quando falam sobre seus livros, já que seus poemas fluem como textos em prosa.

Medo do Palco

“Poetas e escritores.
É assim que se diz.
Logo, poetas não são escritores, então o quê —

Os poetas são poesia, os escritores são prosa —

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Na prosa pode caber tudo, inclusive a poesia,
mas na poesia deve haver só poesia —

De acordo com o cartaz que a anuncia
com o floreio art nouveau de um P maiúsculo,
inscrito nas cordas de uma lira alada,
eu deveria entrar voando, não andando —

E não estaria melhor descalça
do que com esse sapato comum
batendo o salto, rangendo,
desajeitado substituto de um anjo? —

Se ao menos o vestido fosse mais longo, esvoaçante,
e os versos saíssem não da bolsa, mas da manga,
e versassem sobre a festa. o desfile, o sino solene,
dim dom
ab ab ba —

Mas lá no pódio já espreita uma mesinha,
meio de sessão espírita, com pés dourados,
e na mesinha esfumaça um castiçal —

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De onde deduzo
que terei que ler à luz de velas
o que escrevi à luz de uma lâmpada comum
tac tac tac na máquina —

Sem me preocupar antes do tempo
se isto é poesia
e que poesia —

Se aquela na qual a prosa é malvista —
Ou aquela que é bem-vista na prosa —

E que diferença é essa,
perceptível apenas na penumbra,
sobre o fundo de uma cortina bordô
com franjas violeta?”

 

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