‘Crocodilo’, um thriller violento sobre memória e a frieza humana
Episódio de 'Black Mirror' apresenta aparelho que reproduz, em uma tela, as lembranças de uma pessoa

A memória é um tema recorrente e intrigante para Black Mirror. Em um de seus melhores episódios, Toda a Sua História, do primeiro ano da série, um dispositivo funciona como uma câmera de segurança constante, que armazena tudo o que foi vivido pela pessoa que o usa, podendo ser acessado de forma privada ou até coletivamente — com a ajuda de uma tela, como da TV, para a exibição.
Em Crocodilo, terceiro episódio da quarta temporada, as memórias voltam a sofrer com a falta de privacidade. Com uma tecnologia menos avançada que a de Toda a Sua História, o aparato aqui é empregado pela polícia e por companhias de seguro para obter imagens das mentes de testemunhas para serem usadas em processos investigativos. Apesar de ser tão envolvente quanto o capítulo da primeira fase, Crocodilo é mais frio ao tratar de sentimentos humanos, um bocado violento e um tanto falho na construção de sua protagonista.
Na história, um casal atropela e mata um jovem que andava de bicicleta em uma estrada. A moça tenta chamar a polícia, mas seu namorado, que dirigia o veículo, entra em pânico e a convence de que a melhor saída é esconder o corpo e fingir que nada aconteceu. Anos depois, Mia (Andrea Riseborough) é uma mulher casada, com filho e bem-sucedida em seu negócio como designer de interiores, mas se vê obrigada a enfrentar o passado quando o ex-namorado reaparece e diz que pretende contar sobre o acidente à polícia. Paralelamente, a jovem Shazia (Kiran Sonia Sawar), que trabalha para uma seguradora, tenta confirmar o relato de um cliente após ele ter sido atropelado por um carro de entregas. Para isso, ela conta com a ajuda do aparelho que reproduz, em uma tela, as memórias de uma pessoa.
A trama se passa na gélida Islândia e o cenário se beneficia largamente disso – as paisagens são sensacionais e estabelecem uma bem-vinda mudança de cenário em relação à maioria dos episódios da série. Igual frieza pode ser vista em Mia nos momentos cruciais da produção, o que aparenta estar em contradição com a personalidade que ela mostra inicialmente. Essa mudança repentina causa estranheza e incômodo, mas o ritmo de thriller que a história adquire com o passar dos minutos acaba se sobressaindo e valendo a hora passada em frente à TV.
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