Aerosmith fecha o Monsters of Rock sem surpresas
Performance de cada integrante da banda é impecável, o entrosamento entre eles é perfeito, mas show grandioso e forrado de hits é previsível até o fim
O Aerosmith é uma das grandes instituições do rock e seu show é grandioso e forrado de hits. A performance individual de cada integrante é impecável, o entrosamento entre eles é perfeito, mas o show é previsível do início ao fim. Você sabe quais sucessos serão tocados e eles são tocados exatamente como estão em disco, apenas com as deixas estratégicas para o público cantar junto. Você já conhece as roupas, as caretas, sabe que o vocalista Steven Tyler e o guitarrista Joe Perry vão dividir o microfone uma dúzia de vezes, que Tyler vai balançar o pedestal para lá e para cá e vai se jogar no chão em algum momento.
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O show que encerrou a segunda noite do festival Monsters of Rock, na Arena Anhembi, não fugiu à regra. Foi bem marcado, quase tudo cronometrado e coreografado. Não há espaço para espontaneidade ou surpresas. A banda se empenhou durante duas horas e fez um bom show, mas não demonstrou estar especialmente inspirada em momento algum.
Apesar de ter mais de 40 anos de estrada, o grupo privilegiou as décadas mais recentes, com o pop rock dos anos 1980 de Love in an Elevator, Rag Doll, What it Takes e Dude (Looks Like a Lady), e com o rock de arena e as baladas dos anos 1990 e 2000, caso de Pink, I Don’t Want to Miss a Thing, Jaded e Livin’ on the Edge.
Entre os destaques da noite, a baladona Cryin’, que reergueu a carreira da banda em 1993, foi cantada por todo o público do início ao fim. Já no bis, a bela Dream On, lançada 20 anos antes, levou Steven Tyler ao piano e provocou arrepios. A apresentação acabou com uma versão convincente do hard rock Sweet Emotion, da fase setentista.
Whitesnake – Antes do Aerosmith aparecer, a noite foi uma viagem de volta ao hard rock dos anos 1980 para um público mais velho e muito mais feminino do que o do primeiro dia de festival. A segunda grande atração foi o Whitesnake. David Coverdale entrou no palco com uma camisa branca com a bandeira do Brasil estilizada. Aberta até o umbigo, deixava ver várias correntes penduradas no pescoço. O cabelo continua igual: longo, loiro e ainda volumoso, apesar de seus 62 anos de idade. E o mesmo vale para a voz. Grande trunfo do Whitesnake, o gogó de Coverdale pode não estar intacto, mas ainda produz um vozeirão.
Hoje o Whitesnake é quase todo jovem, mas é virtuoso e bem entrosado. Há solos de guitarra em todas as músicas. O baterista Tommy Aldridge, veterano que já tocou com Ozzy Osbourne e Gary Moore, também sola (e, no meio do solo, dispensa as baquetas e toca com as mãos). Há até solo de gaita.
O show foi de hard rock pesado, com guitarras altas na maior parte do tempo, como em Love Ain’t no Stranger, Love Will Set You Free e Fool For Your Loving. Mas são as grandes baladas as mais populares por aqui e foram elas que mais entusiasmaram a plateia, em especial a feminina. Here I Go Again fez sucesso, mas foi Is This Love, tocada logo no início, que arrancou lágrimas das fãs.
A boa apresentação foi encerrada com duas músicas do Deep Purple, do qual Coverdale fez parte entre 1973 e 1976: Soldier of Fortune e Burn, essa em uma interpretação arrasadora.
Desencontros – Os primeiros a tocar em posição de destaque foram os norte-americanos do Ratt, que chegaram no início da noite. A banda de hard rock trouxe direto dos anos 1980 as calças de couro, os cabelos longos e repicados, as bandanas na cabeça e os longos solo em guitarras “flying V”.
Seu som, que já era ruim quando ainda fazia parte de um estilo que estava na moda, hoje em dia fica ainda pior. Não só porque soa datado e repetitivo, mas também porque a banda não sabe mais como executá-lo. Os integrantes se desencontram constantemente e seguem perdidos por longos minutos. Foi assim até no grande hit da banda, Round and Round, última do set list. O vocalista Stephen Pearcy tenta ser simpático, mas se esforça demais. E sua voz de gata no cio incomoda os ouvidos.
Sem filas – Segundo a assessoria, o Monsters of Rock teve seus ingressos esgotados, reunindo 30 000 pessoas por dia. Em todo o evento, a estrutura funcionou bem. Era fácil trocar dinheiro por fichas e pegar comida e bebida; pequenas filas se formavam apenas no horário de pico, perto das 20 horas. Ambulantes circulavam pela pista levando comes e bebes para quem não quisesse sair do lugar e diminuindo a demanda nos bares e restaurantes laterais.
Os banheiros também foram suficientes. Filas se formaram apenas nos femininos próprios do Anhembi, preferidos pelas moças. Mas quem não quisesse esperar tinha os químicos à disposição – esses menos cômodos, mas sem espera.