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Rosely combateu o preconceito dentro (e fora) da escola

Projeto, selecionado no Prêmio Educador Nota 10, extrapolou muro do colégio e ajudou comunidade a combater o trabalho escravo e a rejeição a imigrantes

Por Marina Rappa Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 13 out 2017, 16h51 - Publicado em 12 out 2017, 22h15

O avô paterno de Rosely Marchetti Honório foi o pontapé inicial para a sua adoração por história. Os pais de Antonio Marchetti vieram da Itália no século XIX, e ele costumava contar para a neta as peripécias e aventuras da família durante a vinda para o Brasil. Os fatos, narrados quase como contos, levaram Rosely a ter o sonho de ser professora de história e, mais tarde, à realização de um projeto sobre imigração com alunos do 6º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental Infante Dom Henrique, em São Paulo.

Localizada no bairro do Pari, região central de São Paulo, a escola recebe grande quantidade de alunos bolivianos ou descendentes. A maioria dos estudantes vem de um local apelidado carinhosamente de “Vila”, que surgiu após a extinção da Favela do Canindé e do Residencial Olarias, um edifício do programa de locação social da Secretaria de Habitação de São Paulo.

O projeto “O migrante mora em minha casa” surgiu após uma sensível percepção de Rosely sobre sua turma: muitos brasileiros hostilizavam os estrangeiros ou filhos de pessoas vindas de outros países. “Na sala de aula, pude ouvir comentários que criticavam os bolivianos por ‘tirar o trabalho dos brasileiros’. Percebi que falas como essa permeavam muitas conversas deles. No entanto, muitos imigrantes que vivem no Pari enfrentam condições difíceis de vida por trabalharem em confecções e serem submetidos a trabalho escravo”, afirma a professora.

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A realidade dos alunos a fez buscar soluções para abordar o tema de maneira profunda, sensibilizando-os com as histórias de vida dos imigrantes – o que a fez lembrar do avô. “Para mim, um professor de história tinha que ser como ele, que dava sentido ao que contava porque acabava, sem saber, entrelaçando a própria história com a da vida coletiva.”

Uma árvore genealógica fez com que cada aluno entrasse em contato com seus antepassados, o que o o levou a perceber que praticamente todas as famílias tinham parentes vindos de algum local do Brasil ou do mundo em busca de melhores condições de vida. Com a migração tão próxima da trajetória dos estudantes, o próximo passo foi ensinar os conceitos. “A simples ação de explicar a matéria não seria suficiente para mudar a maneira de pensar de alguns alunos que demonstravam preconceito por desconhecimento. Queria que eles pensassem em como todos nós somos iguais”, afirma.

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A professora conta que procurou entender o local ao redor da escola e como as pessoas se relacionavam a partir de conversas com os próprios alunos. “O que percebi foi que esses estudantes brasileiros que moram e estudam na ‘Vila’ também são discriminados porque residem na área mais desvalorizada do distrito do Pari, o bairro do Canindé. Eles acabam tratando o imigrante de origem boliviana da mesma maneira como são tratados”, conta.

A atividade proposta fez com que os alunos refletissem sobre preconceito, discriminação e a relação existente entre imigração e trabalho escravo. Os resultados extrapolaram os muros do colégio e atingiram toda a comunidade. “Estudantes estrangeiros e os descendentes descobriram que têm o mesmo direito que os outros de falar e se expressar. Por meio do projeto, os estudantes descobriram que existem algumas confecções que foram denunciadas pelo Ministério Público por submeterem pessoas a trabalho escravo naquela região.”

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Com o novo conhecimento adquirido, os alunos pensaram em maneiras de transformar a realidade local. Produziram um folheto educativo que seria entregue à comunidade, passando o conhecimento da sala de aula para o bairro. “Eles debateram o preconceito com os imigrantes e alertaram a todos sobre a existência de trabalho escravo. Isso foi muito legal porque o projeto impactou a escola e os arredores”, afirma Rosely, orgulhosa.

Rosely conquistou com a iniciativa um lugar entre os dez melhores professores do ano pelo Prêmio Educador Nota 10, promovido pelas fundações Victor Civita e Roberto Marinho. Ela também tem a chance de ser eleita Educadora do Ano na cerimônia que acontece no próximo dia 30, em São Paulo.

Conheça os dez indicados

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Denise Rodrigues de Oliveira
Novo Hamburgo – RS

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Di Gianne de Oliveira Nunes
Lagoa da Prata – MG


Diogo Fernando dos Santos
Pindamonhangaba – SP


Gislaine Carla Waltrik
União da Vitória – PR


Luana Viegas de Pinho Portilio
Embu das Artes – SP


Rosely Marchetti Honório
São Paulo – SP

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