Que país é esse?
Dados divulgados pelo MEC mostram que o Brasil está perdendo a corrida global dentro da sala de aula
Esqueça o pódio. O Brasil é aquele velocista que larga entre os últimos, às vezes avança, dá à torcida um instante de esperança, mas cansa e não desgruda do pelotão de trás. O novo mapa sobre o ensino brasileiro divulgado pelo Ministério da Educação mostra flutuações aqui e ali, para cima e para baixo, mas o fato concreto é que o país continua sendo o corredor café com leite, sem chances de medalha, muito atrás de competidores que não só despontam na dianteira. Eles alçam as pistas a outro patamar.
Enquanto chineses, coreanos, finlandeses discutem as trilhas para fazer da escola de hoje um lugar condizente com o século XXI, e não param de testar ideias e abraçar o que é bom, os brasileiros estão ainda aferrados ao modelo do século XIX, enredados em questões tão, tão básicas. É como se fossem esportes diferentes, o nosso e o deles. O preço deste abismo é um freio de mão ao Brasil. Custa o próprio desenvolvimento.
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A metade dos jovens brasileiros fica pelo meio do caminho do ensino médio. E a maioria dos que atravessam a linha de chegada chegam mal, mal mesmo. Ano após ano, vem sendo assim. No atual retrato do MEC a situação não muda – até piora em matemática, justo ela, condição básica para o salto em tantas áreas do conhecimento. Essa paralisia é desastrosa: nesta corrida, uns marcam passo, outros disparam.
O melhor termômetro para comparar a performance de países é o Pisa, prova aplicada desde 2000 pela OCDE, a organização das nações mais desenvolvidas. A medição é feita em alunos de 15 anos. Daí se extraem as marcas de Xangai, província chinesa que encabeçou por duas vezes consecutivas o ranking mundial do ensino, e as do Brasil, sempre na rabeira. O último levantamento revelou que 55% dos chineses têm desempenho extraordinário. Já os brasileiros contam apenas com 0,8% — sem nenhuma casa decimal a mais – neste seleto grupo preparado para produzir e inovar.
O MEC lançou mais um de vários sinais de alerta de que a educação brasileira patina perigosamente e de que há algo de muito errado em um ensino médio que despeja no mundo adulto uma turma incapaz de avançar individualmente e de trazer ganhos para o país na competição global.
A propósito do resultado daquele tenebroso Pisa, só mais uma informação. Quando veio à luz, as autoridades brasileiras celebraram o fato de o país constar entre os que mais progrediram em matemática na década. Só que, detalhe pouco lembrado, continuava em 57º entre 65 nações. Lá no topo, a China, que não é boba nem nada, seguiu correndo em ritmo de 100 metros rasos.