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O que explica a saída de dois coordenadores do Enem às vésperas da prova

Relação entre servidores do Inep e atual diretoria vem azedando há tempos, relataram funcionários a VEJA

Por Ricardo Ferraz Atualizado em 5 nov 2021, 16h40 - Publicado em 5 nov 2021, 16h29
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  • Dois servidores do Inep, órgão responsável pela realização do Exame Nacional do Ensino Médio, pediram exoneração do cargo a apenas duas semanas da aplicação do teste, que ocorrerá nos dias 21 e 28 de novembro. Eduardo Sousa, Coordenador de Exames para Certificação, solicitou a saída no dia primeiro no mês, ele estava afastado devido à uma estafa profunda, após a montagem da prova. Já Hélio Júnio Rocha Morais, coordenador de Logística de Aplicação, oficializou a saída nesta sexta-feira. Os dois estavam diretamente ligados à realização do Enem.

    A saída dos servidores de áreas estratégicas acontece em um momento crítico no Inep. Ao longo das duas últimas semanas, a reportagem de VEJA manteve contato com servidores de todas as áreas do órgão que, sob condição de anonimato,  relataram tentativas reiteradas de interferência na avaliação. As revelações estão em uma matéria exclusiva na edição que chega às bancas nesta sexta-feira.

    No dia 02 de setembro, por exemplo, um policial federal entrou na sala segura, onde a prova é elaborada, com anuência de um diretor recém nomeado na autarquia. Uma vez no ambiente restrito, passou a fazer perguntas sobre o questionário, o que, segundo relatos, constrangeu os funcionários. Um servidor ocupante de um cargo estratégico na entidade relatou que o presidente Danilo Dupas tem se recusado a assinar documentos relacionados ao Enem, como forma de se blindar caso alguma questão desagrade o presidente Jair Bolsonaro, como ocorreu nas edições anteriores.

    A agenda pública do Inep, disponibilizada no site da administração federal, também revela que a Diretoria de Avaliação da Educação Básica, diretamente responsável pelo exame, não foi convocada para reuniões que tratavam do Enem. No dia 19 de outubro, por exemplo, ocorreu uma reunião de “alinhamento operacional”, sem a participação do atual ocupante da Daeb, Anderson Oliveira.

    Outro ponto que causou desconfiança e desconforto nos corredores do Inep está diretamente ligado à aplicação da prova. Historicamente, os servidores recebem uma remuneração extra para acompanhar as etapas externas da avaliação – da impressão à divulgação de resultados. Isso ocorre porque essas tarefas não estão listadas entre as obrigações dos funcionários. Esse ano, no entanto, a presidência se recusou a oferecer a gratificação, o que fez o número de inscritos para desempenhar as funções de acompanhamento cair drasticamente. Internamente, comenta-se que o Enem desse ano só deverá ocorrer porque o número de inscritos é o menor da história: 3,1 milhões de estudantes.

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    A baixa adesão ao exame tem uma explicação: os alunos carentes que pediram isenção da taxa de inscrição em 2020 foram penalizados e não puderam solicitar o benefício novamente esse ano, mesmo se tratando de um período de pandemia, em que muitos faltaram por falta de segurança sanitária. Na edição passada, houve aglomerações e falta de salas para acomodar todos os participantes. A medida foi revertida por ordem do Supremo Tribunal Federal e, pela primeira vez, haverá duas provas diferentes para uma mesma edição do Enem – a segunda turma irá realizar o teste em janeiro de 2022.

    Servidores que acompanharam o processo de definição da data, contam que a medida, na realidade, tratou de uma manobra do Ministro da Educação, Milton Ribeiro, para que o exame fosse realizado esse ano. “Com o número total de alunos, que gira em torno de 5 milhões, segundo a série histórica, seria o caos”, diz um funcionário.

    Na última quarta-feira, VEJA encaminhou uma série de questionamentos à presidência do Inep. Mas não obteve qualquer resposta até o momento.

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