A ativista indígena Txai Suruí, de 25 anos, tornou-se uma forte voz na luta pelos direitos humanos de povos indígenas. Desde que ganhou notoriedade com seu discurso na COP 26, que aconteceu em Glasgow, Escócia, em novembro de 2021, Txai tem encabeçado combates em novas frentes, como o Congresso, no qual tramita um projeto do governo que prevê a regulamentação da exploração de recursos minerais, hídricos e orgânicos em terras indígenas. A ativista da etnia paiter-suruí esteve em Brasília (DF) na última semana onde encontrou-se com artistas e congressistas, mas se viu derrotada, já que a Câmara aprovou regime de urgência para a matéria com o pressuposto da produção de fertilizantes em meio à guerra entre Rússia e Ucrânia.
“A aprovação do requerimento de urgência foi uma afronta para nós, já que estávamos todos no ato com milhares de pessoas exatamente para mostrar que a gente não quer e não aceita a mineração nas terras indígenas”, diz a ativista. “Acho que o [presidente Jair] Bolsonaro não tem força para se reeleger, então, ele vai usar os últimos meses de mandato para passar todo o tipo de projeto de lei que ele puder, principalmente aqueles que são destrutivos para os povos indígenas. São projetos que fomentam o genocídio dos povos indígenas.”
O projeto de lei 191/2020, que prevê a exploração em terras indígenas, faz parte do que o “Movimento 342 Amazônia” chama de “pacote da destruição”. São cinco projetos de lei que tramitam no Congresso listados como danosos aos interesses socioambientais, como o PL 6.299/2002, que muda as regras de registros para agrotóxicos; e o PL 3.729/2004, que trata do licenciamento ambiental. “Todos esses projetos de lei de destruição que estão para ser votados significam a destruição não só da nossa floresta, como o adoecimento do nosso povo brasileiro. Se esse PL do agrotóxico passa, a gente estará colocando veneno na mesa para as pessoas comerem”, diz Txai.
Coordenadora da Associação de Defesa Etnoambiental – Kanindé e cofundadora do Movimento da Juventude Indígena de Rondônia, Txai cobra o comprometimento de deputados e senadores com a pauta socioambiental. “Não adianta só conversar, eles [os congressistas] devem se comprometer com a pauta. O que a gente está vendo é que está passando tudo na Câmara, não só o projeto 191, mas o 490 e muitos outros. É uma vergonha”, dispara. “Os próprios deputados de oposição falam que a forma de travar esses projetos é tentar postergar as conversas, porque se for para votação, a gente perde”, lamenta ela.
Em abril de 2019, Bolsonaro disse haver “3 trilhões de reais embaixo da terra”, em Roraima, que “o índio tem o direito de explorar isso de forma racional” e não pode continuar “sendo pobre em cima de terra rica”. Txai, no entanto, refuta essa versão dos fatos.
“É uma mentira. A gente não vai ficar rico se tiver mineração e garimpo nas nossas terras, pelo contrário. Isso só vai nos trazer destruição e doenças, a morte dos nossos rios e das nossas florestas”, rebate. “Hoje, a gente sabe que há outros jeitos de conseguirmos ter uma economia forte sem precisar destruir as florestas. Não existe pobreza dentro dos territórios indígenas. A pobreza existe quando há invasão, quando há destruição. Lá ninguém passa fome, a gente tem qualidade de vida, não é que nem na cidade grande, onde há miséria e passamos por racismo e preconceito.”