A taxa de desemprego registrou um aumento para 7,9% no primeiro trimestre de 2024, 0,5 ponto acima do 4º tri de 2023. Apesar da alta, a análise dos dados divulgados pelo IBGE nesta terça-feira, 30, mostram um mercado de trabalho resiliente, sendo esta a menor taxa para um primeiro trimestre desde 2014.
Há, sim, sinais de enfraquecimento, notadamente pelo crescimento do número de desocupados — aqueles que não estão empregados e também não buscam emprego. Contudo, o aumento do rendimento real e da massa salarial, junto a um mercado que permanece robusto, pode ser indicativo importante para o Banco Central ao calibrar suas futuras decisões de política monetária.
O cenário reflete uma gradual melhoria do mercado de trabalho pós-pandemia, acompanhada por um aumento dos rendimentos reais e uma expansão expressiva da massa salarial, alcançando cifras recordes. “Anteriormente, o bom desempenho do mercado de trabalho estava se dando pela expansão do número de pessoas trabalhando. Agora, esses números seguem sólidos, mas é o terceiro mês que eles pioraram”, diz Igor Cadilhac, economista do banco digital PicPay. As hipóteses para essas mudanças incluem o envelhecimento populacional e os programas de transferência de renda governamentais, que podem estar influenciando a saída de pessoas da força de trabalho.
Além disso, os rendimentos seguem em expansão e se mantêm em níveis altos. É crucial destacar que, durante a pandemia, muitos trabalhadores não receberam reajustes salariais adequados e que a estabilidade dos preços tem permitido ajustes salariais acima da inflação. Portanto, esse ambiente, aliado a uma baixa taxa de desemprego, tem fortalecido a massa de rendimentos. “Pensando a médio prazo, a dinâmica inflacionária merece atenção, especialmente com a implementação da nova política para o salário mínimo, o que pode suscitar preocupações inflacionárias adicionais”, diz Cadilhac.
Esses dados têm implicações diretas na política monetária e na condução da taxa Selic. Uma taxa de desemprego que se mantém baixa e estável pode indicar que a economia está crescendo a um ritmo saudável, sem superaquecer. Isso pode levar o BC a considerar manter a Selic para controlar pressões inflacionárias sem frear o crescimento econômico. Por outro lado, se a taxa de desemprego começasse a subir significativamente, isso poderia ser um sinal de que a economia está esfriando, levando o BC a reduzir a Selic para estimular o crescimento econômico e o emprego. “Apesar de ser um número menor, é considerado positivo, pois oferece espaço para o Banco Central reduzir a taxa Selic sem estar tão pressionado por dados robustos de geração de emprego”, afirma Volnei Eyng, CEO da Multiplike.
A resiliência do mercado de trabalho e a expansão dos salários, acima da inflação, jogam um papel duplo. Por um lado, sustentam o consumo e a demanda interna, contribuindo para o crescimento econômico. Por outro, podem acender sinais de alerta para pressões inflacionárias futuras, especialmente com a nova regra do salário mínimo, que pode impulsionar ainda mais os rendimentos. Isso coloca o Banco Central em uma posição delicada de equilibrar o estímulo à economia sem desencadear inflação.
O Banco Central, então, se vê numa encruzilhada: continuar a estimular a economia por meio de uma Selic mais baixa, sustentando assim a recuperação econômica e o emprego, ou iniciar um ciclo de aperto monetário para prevenir uma escalada inflacionária. Os dados do Caged, mostrando a criação de 244.315 vagas formais em março, abaixo das expectativas, mas ainda positivos, oferecem um suporte adicional para manter a Selic em níveis baixos por mais tempo, sem grande pressão por ajustes imediatos.
Assim, o mercado de trabalho, em 2024, continua a ser um indicador-chave para a saúde econômica do Brasil e um determinante crucial nas decisões de política monetária. A expectativa é que a taxa de desemprego se mantenha em patamares historicamente baixos, refletindo uma recuperação contínua mas cautelosa, e que o Banco Central possa manter uma abordagem equilibrada, estimulando a economia enquanto monitora de perto os potenciais riscos inflacionários.