O setor avícola do Brasil precisará sacrificar 24 milhões de aves por dia a partir desta quinta-feira se os fornecedores não conseguirem levar ração às granjas em razão dos protestos de caminhoneiros, e o governo terá de socorrer os produtores mais afetados, disse o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, nesta quarta.
A indústria avícola do Brasil, o maior exportador de carne de frango do mundo, pode entrar em colapso se o 1,2 milhão de aves matrizes, que são peça-chave para a criação, forem abatidas, disse Maggi. Poderá levar dois anos e meio para o setor se recuperar se isso acontecer, ele acrescentou.
“Se nós perdermos essas aves, nós perdemos toda a capacidade de recuperação”, disse Maggi. “Estou muito preocupado.”
Os protestos de caminhoneiros contra a alta do diesel estrangularam o país, que é a maior economia da América Latina, por mais de uma semana, levando a desabastecimento de combustível e alimentos e pressionando todo tipo de exportação, de soja a carne e carros.
A indústria de carnes já estima uma perda de 1,3 bilhão de reais em decorrência da greve, disse Maggi.
Ele avalia que cerca de 64 milhões de aves já foram mortas, um volume um pouco abaixo do considerado pela indústria, de mais de 70 milhões. O Brasil tinha por volta de 1 bilhão de aves antes da greve.
Alguns produtores perderam seu capital de trabalho e precisarão de assistência financeira, acrescentou o ministro. Conforme Maggi, o governo ajudará essa cadeia produtiva adiando gastos em outros setores.
ATRASO NA SOJA
Exportadores de soja têm navios ancorados por não ter o produto nos principais portos para carregá-lo, disse Maggi. Ele não conseguiu quantificar o custo do atraso dos envios para a indústria, mas disse que seria “muito grande.”
O Brasil é o maior exportador de soja do mundo, sendo a China sua maior compradora.
O país se beneficiou da disputa comercial entre a China e os Estados Unidos, já que os compradores chineses adquiriram mais cargas do Brasil.
Porém Maggi disse que, no longo prazo, a disputa poderia prejudicar o Brasil. Os exportadores americanos de soja procurariam vender mais em outros mercados, possivelmente roubando negócios do Brasil, comentou. Assim, se os EUA e a China acabassem resolvendo suas diferenças, o Brasil poderia acabar perdendo, disse ele.
Não houve uma solução rápida para a restrição da União Europeia ao frango brasileiro, porque o padrão imposto pela UE sobre a ocorrência de salmonela nos envios brasileiros era muito difícil de ser alcançado, disse Maggi.