A renúncia de Maria Silvia Bastos Marques da presidência do BNDES, anunciada na tarde desta sexta-feira, deve trazer mais instabilidade à economia. Analistas dizem que, embora ainda não seja possível medir os desdobramentos da medida, a baixa é ruim por trazer mais incertezas a um ambiente já atribulado após a delação premiada de Joesley Batista, da JBS, envolvendo o presidente Michel Temer. “Ela fazia parte do grupo mais importante da equipe econômica. É mais um fator negativo em uma semana turbulenta”, diz Marcel Balassiano, analista do Ibre/FGV.
Para Gustavo Cruz, economista da corretora XP, embora os motivos que levaram à saída da executiva não estejam claros por ora, a troca de comando põe dúvidas sobre a continuidade de outros membros da equipe econômica. “É difícil entender se houve pressão ou não para a sua saída. Afeta aquela segurança que o mercado tinha sobre a equipe econômica, põe dúvida se outros nomes não vão desembarcar”, avalia. Em nota à imprensa, o BNDES diz que Maria Silvia renunciou por motivos pessoais.
Há duas semanas, a sede do banco foi alvo de busca e apreensão durante a Operação Bullish, da Polícia Federal. A investigação apura se houve favorecimento indevido à JBS através do repasse de 8 bilhões de reais. Segundo Pedro Afonso, chefe de operações da Gradual, a impressão é de que o BNDES é uma “caixa-preta”, e há um risco de impacto nas empresas se houver uma devassa nas operações já realizadas. “A dúvida é o quão a Operação Lava Jato vai para cima do BNDES”, diz.
Os funcionários do BNDES vinham criticando Maria Silvia por não ter feito uma defesa mais efetiva dos colaboradores da instituição em relação às investigações da PF. Em editorial publicado nesta quinta-feira em seu jornal interno, a AFBNDES (associação dos funcionários do BNDES) diz que as acusações são “descabidas” e que as investigações sobre as operações precisam ser “racionalizadas”.
Maria Silvia também era criticada por setores empresariais, que a acusavam de ter fechado as torneiras do banco. Em conversa gravada, o empresário Joesley Batista se queixou da atuação da executiva ao presidente Michel Temer. “Está bem travado”, disse ele.