A inflação é um grande termômetro do consumo e também sensível a variação cambial, alta das commodities e, claro, recebe efeitos de política econômica. Apontada como uma pressão temporária durante todo o ano passado, o indicador, ainda que dentro da meta, não dá sinais de arrefecimento. Analistas do mercado financeiro apontam que o IPCA, índice oficial de inflação do país, deva fechar o ano em 3,60%, quinta alta consecutiva. Há um mês, a expectativa era que o índice fechasse em 3,34%. A meta definida para este ano é de 3,75%.
A aposta é que principais fatores para a pressão inflacionária no ano passado – retomada das atividades, pagamento do auxílio emergencial e desvalorização do real em relação ao dólar – devem ocorrer em menor proporção (ou não acontecer) em 2021, impactando menos a pressão da inflação neste ano. Apesar do auxílio emergencial ter deixado de ser pago, outras variáveis que impactam a inflação seguem pressionando o indicador. O real desvalorizado e a alta das commodities são alguns desses motivos. O movimento pode ser visto no preço dos combustíveis.
A Petrobras utiliza parâmetros do preço do barril de petróleo no mercado internacional, que é cotado em dólar. A partir do último trimestre do ano passado, o preço do barril voltou a subir e, como o real passou a valer menos em relação ao dólar, o peso no valor do combustível é ainda maior. Nesta segunda-feira, o preço do barril tipo Brent, referência para a Petrobras, superou os 60 dólares, maior marca em um ano. A pressão do combustível já é sentida pelo consumidor, tanto que, devido insatisfações dos caminhoneiros, o presidente Jair Bolsonaro quer fixar o preço de impostos estaduais no combustível para segurar o preço sem usar de tabelamento. Em janeiro, a Petrobras aumentou o preço da gasolina e do diesel por duas vezes em menos de 10 dias na bomba. O impacto deve ser mostrado no IPCA de janeiro, que será divulgado nesta terça-feira, 9, pelo IBGE.
A alta nos combustíveis impacta também no preço de produtos e serviços, porque o transporte está mais caro. Com o real desvalorizado, além do petróleo, outras commodities como a soja podem continuar a pressionar os alimentos. Neste ano, a pressão inflacionária também pode ser vista em preços administrados como planos de saúde, gastos com educação e no próprio setor de serviços, deprimido em 2020.
Retomada econômica
Apesar do cenário desafiador, os economistas consultados pelo Banco Central apontam uma recuperação do Produto Interno Bruto (PIB) de 2021 após a queda histórica de 2020. A perspectiva é que a economia brasileira cresça 3,47% neste ano, após um recuo estimado de 4,37% em 2020. A previsão, entretanto, é ligeiramente menor que na semana anterior, quando o mercado financeiro estimava recuperação de 3,50%.
Apesar da crise sanitária ainda não ter ido embora, a expectativa é de continuidade na recuperação das atividades, que passaram por choque no ano passado.A retomada das atividades econômicas, que ganhou fôlego no terceiro trimestre de 2020, somada à expectativa pela vacinação da população são os fatores que o mercado leva em consideração para estimar a recuperação econômica. Vale lembrar que a velocidade da imunização da população tem papel fundamental nessa perspectiva de retomada.
Além disso, o andamento da agenda de reformas também é essencial para melhorar o ambiente de negócios e destravar investimentos, estimulando assim a recuperação. Com a eleição de novos presidentes na Câmara e no Senado, é esperado que a agenda destrave. Na esteira da negociação, está uma prorrogação do auxílio emergencial, que pode ser atrelado à PEC emergencial.
Vale lembrar que fatores externos impactam o desempenho da economia, incluindo doenças e política externa. No ano passado, por exemplo, a previsão era de crescimento de 2,3% no início do ano, mas o choque de demanda trazido pelo coronavírus causou recessão. A estimativa de recuo da economia brasileira em 2020 é de 4,36%, segundo o Focus divulgado nesta segunda. O resultado do PIB do ano passado será revelado no próximo mês de março.