Enquanto a Polícia Federal apura o uso do Postalis, fundo de pensão dos funcionários dos Correios, no esquema de lavagem de dinheiro do doleiro Alberto Youssef, o que se sabe até o momento é que o rombo de 5,6 bilhões de reais registrado em 2014 pelo fundo foi resultado de má gestão por parte de seus diretores. Caso exemplar dos malfeitos com o dinheiro dos beneficiários é o investimento do Postalis no grupo Voges, uma holding metalúrgica do Rio Grande do Sul que pediu recuperação judicial em 2013, com uma dívida de 360 milhões de reais.
Em 2007, o fundo concretizou o aporte de 39 milhões de reais no grupo gaúcho. Em 2011, o Postalis já antevia que não conseguiria recuperar o dinheiro investido e provisionou perdas de 78 milhões de reais em seu balanço. Em 2012, ao constatar que a situação era irreversível, o Postalis manteve o mesmo provisionamento – que corresponde ao valor do investimento inicial corrigido até aquele ano, acrescido de multas. Procurado pelo site de VEJA, o fundo afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que a provisão pode ser revertida se o Postalis ganhar na Justiça o direito de reaver os recursos. O processo pode ser longo e custoso.
Em 2012, o grupo Voges não era o único investimento que dava errado para o Postalis. O valor provisionado em perdas somava 231,39 milhões de reais. O pedido de recuperação judicial da empresa, feito em 2013, foi atribuído à crise financeira e à queda nas vendas de motores de caminhões. Trata-se de uma empresa familiar de Caxias do Sul, cujo proprietário é o empresário Osvaldo Voges, e que empregava, à época, mais de mil funcionários.
Uma das possibilidades aventada por credores, e que chegou a compor o plano de recuperação, foi ofecerecer a Voges Motores por 1 real – desde que o comprador assumisse a dívida de 360 milhões de reais do grupo.
O advogado da empresa, Thomas Müller, conta que a alternativa foi descartada no ano passado. Agora, a ideia é leiloar a unidade de motores da companhia até setembro deste ano, segundo acordo firmado com credores. O plano de recuperação prevê que, caso o leilão não ocorra, seja marcada nova assembleia para redefinir os rumos do processo.
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Histórico – Outros investimentos que levaram o Postalis a apresentar um déficit bilionário estão aplicações em títulos de bancos liquidados, como Cruzeiro do Sul e BVA, e investimentos atrelados à dívida de países com problemas, como Argentina e Venezuela.
Após seis meses de investigação, a Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc) chegou à conclusão de que os diretores e conselheiros do Postalis, o fundo de pensão dos funcionários dos Correios, foram responsáveis por parte do rombo de 5,6 bilhões de reais no plano de benefício. A constatação foi feita em dois relatórios confidenciais produzidos pelos investigadores, obtidos pelo jornal O Estado de S. Paulo.
De acordo com os documentos da Previc (autarquia vinculada ao Ministério da Previdência Social) , os gestores “não agiram com zelo e ética”. São acusados de má gestão e de não observar, sobretudo, a rentabilidade dos fundos onde depositaram o dinheiro dos participantes.